domingo, 14 de outubro de 2012

O VELHO PATRIARCA

Silvino Ribeiro dos Santos é o meu avô paterno. Figura ímpar, ex-tropeiro, com muitas histórias para contar. Convivi com ele mais ou menos 12 anos, quando vim, com meu pai, pra cidade e só ia visitá-lo nas ferias escolares e, quando já trabalhava nas férias do trabalho ou nos feriados prolongados. Muitas lembranças ficaram. E hoje, meu pai tem uma chácara colada à casa onde ele morou e de onde só saiu já muito doente. Passado muito tempo de seu falelcimento, num momento em que eu me encaminhava para o trabalho e, sonolonto tive uma "visão" dele. Imadiatamente refletindo sobre essa "visão" escrevi este texto


O VELHO PATRIARCA


 

Um sorriso na multidão trouxe-me a sua imagem. Não pude conter as lágrimas.

 

Sentado no seu tradicional banco sobre a taipa do fogão onde a vó preparava o tão esperado jantar, à sua moda.

 

A saudade me aperta o peito... Agora o tenho claro em minha mente: sua figura imponente, botas cano longo, mãos cruzadas para trás, assobiando baixinho algo ininteligível... figura do velho patriarca, inspirando respeito, temor, mas juntando, unindo à sua volta filhos, netos, bisnetos, camaradas, transmitindo-lhes segurança.

 

Sim, o velho patriarca ! Influía na política e ninguém ousava fumar na sua presença !

 

Figura imponente, alegre. Lembro-me do xaxado que ensaiava ao brincar com o netinho... E a caipirinha, envelhecida, muito doce, para as ocasiões especiais, ou regar o frango à caipira.

 

Nós quase não falávamos. Minha voz, baixa e tímida, não conseguia vencer a sua surdez progressiva., momento em que ficava encabulado e triste. Eu também.

 

Mas hoje, quando há tempos deixou este mundo, acredito que podemos conversar mais tranqüilamente e mais à vontade. De onde está me ouve com os ouvidos da alma e eu falo com a voz do coração. Mas, quase não há o que falar. Como vê continuo tímido e falando baixo. Entretanto, quero que saiba o quanto está me fazendo falta a sua presença. Há tristeza, vazio, insegurança. Parece que não tenho a quem recorrer nas minhas limitações e nos momentos de solidão, entende ?

 

Padrinho, como gostava que fosse chamado, sinceramente, como gostaria de ter vivido com você mais tempo, ter-lhe falado mais das minhas preocupações, das minhas fraquezas, dos meus sonhos, do meu amor, dos meus projetos e ouvido de você também suas histórias, seus dramas, suas fraquezas, suas incertezas, decepções, labutas e sucessos.

 

Sabe, um dos meus melhores momentos foi quando ouvi suas passagens do tempo em que era tropeiro... lembra-se daquele dia? Falava sofregamente, com os olhos perdidos em algum ponto do horizonte... ou do passado.

Um comentário:

  1. Zz, FIQUEI ENCANTADA COM A MANEIRA PURA E SIMPLES QUE VOCÊ SE EXPRESSA AO FALAR DO SEU AVÔ, DA SUA HISTÓRIA COM ELE, DA SAUDADE QUE SENTE AO LEMBRAR...
    PARABÉNS PELA INICIATIVA, TENHO CERTEZA QUE SEU BLOG VAI SER UM SUCESSO.

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