terça-feira, 23 de dezembro de 2014

AS INVASÕES DA HUNGRIA E DA CHECOSLOVÁQUIA

A GUERRA FRIA

Para que possamos compreender as razões e o significado dos dois acontecimentos que vamos estudar (as invasões da Hungria em l956 e da Checoslováquia em l968, pelas tropas da ex-União Soviética) precisamos tomar conhecimento da Guerra Fria, que foi o pano de fundo desse período da História recente da humanidade.

A Guerra Fria foi uma série de confrontos entre as duas grandes potências mundiais emergidas da II Guerra Mundial, Estados Unidos (EUA) e Ex-União Soviética (URSS), em praticamente todos os campos de atividades, destacando-se a Corrida Armamentista, a Corrida Nuclear e a Conquista do Espaço Sideral.

Em decorrência da Guerra Fria e da emergência das duas potências, o mundo ficou bi-polarizado, isto é, com duas grandes áreas de influência: a dos EUA, com ênfase ao capitalismo e da URSS, socialista.

Estabeleceu-se, então, a nova geopolítica, surgindo o Primeiro Mundo (sob a hegemonia dos EUA), o Segundo Mundo (URSS) e o Terceiro Mundo (formado pelas nações pobres, periféricas e transformadas em alvo da ação imperialista das duas nações hegemônicas).

Na Europa houve praticamente dois alinhamentos em torno das duas potências: a Europa Ocidental (formada pelos países do lado mais ocidental) alinhou-se aos EUA; e a parte Oriental (Polônia, Hungria, Albânia, Checoslováquia e/outras) à URSS.  (Algumas, como a Suíça, permaneceram na neutralidade). Entre as duas regiões caiu, o que se convencionou chamar, por sugestão de Winston Churchill, a “ Cortina de Ferro “.

Cada potência fazia de tudo para proteger seus “aliados” e impedir que mudassem de lado, comprometendo sua área de influência.

A INVASÃO DA HUNGRIA - 1956

Os acontecimentos que levaram ao massacre e ao fim sonhos de liberdade recentemente acalentados pelos húngaros precipitaram-se em 23 e 24 de outubro de l956. Todo o país se voltava para a Polônia, onde, sem golpes de sangue, ainda que sob a ameaça soviética, uma mudança radical acabara de acontecer. O Comitê Central do Partido Comunista, sob a pressão das massas, elevara ao poder o nacional-comunista Gomulka, velho resistente à dominação externa, vítima do terror stalinista.

Os húngaros sonhavam com liberdades políticas, sociais e econômicas. Os dirigentes húngaros da época, Gero (stalinista), e Janos Kadar, estavam habituados desde 1945 a receber docilmente as ordens de Moscou (Capital da URSS), e se mostravam incapazes de tomar qualquer decisão diante das mudanças que o povo exigia. Os estudantes tinham programado uma grande manifestação para após o meio dia de 23 de Outubro, e Gero decidiu proibi-la. Voltou atrás, diante da promessa de que não haveria violência e vandalismo.

Os estudantes, entretanto, não conseguiram conter-se. A multidão reuniu-se primeiro em volta da estátua de Petof, herói da revolução nacional de 1848, e marcharam pelas principais ruas da capital.

À medida que marchava, recebia a adesão de trabalhadores em escritórios, operários, soldados uniformizados, estudantes de escolas militares. Levavam bandeiras tricolores sem o emblema comunista. Com isto, um novo personagem entrou em cena: a massa anônima, desarticulada, sem chefe, que tinha apenas uma certeza: a de que alguma coisa muito importante ia acontecer.

O povo ocupou todo o quarteirão do Parlamento. Os gritos aumentavam de intensidade: “Imre Nagy no poder! Queremos ver Imre Nagy!”. Relutante, Nagy dirigiu-se ao Comitê Central, onde assumiu o cargo de Primeiro-Ministro.

Os acontecimentos se precipitaram. Grupos de jovens ocuparam a emissora de rádio, exigindo que divulgasse suas reivindicações. Um discurso de Gero, chamando-os de contra-revolucionários. Os policiais chegaram, e aí aconteceu a grande surpresa: muitos policiais juntaram-se aos manifestantes e lhes entregaram armas. De repente começou o tiroteio, transformando a manifestação pacífica em luta armada contra a parte da polícia que não aderira. A estátua de Lenin foi derrubada e o chefe do governo húngaro, Gero, pediu socorro aos dirigentes soviéticos, dizendo que a revolta crescera e que a polícia não seria capaz de contê-la.

Foi então que Imre Nagy, chamado pelo povo, foi contra a ajuda militar soviética, mesmo tendo a revolta se transformado em guerra nas ruas da cidade. Seguiu-se uma série de encontros entre dirigentes húngaros e soviéticos, até que na noite de 03 de Novembro de 1956, o General Servo, chefe da polícia de segurança soviética, prendeu todos os dirigentes húngaros, contrários a essa ajuda militar.

Janos Kadar, aliado dos russos voltou ao poder e, mal o dia 4 de Novembro amanheceu, os tanques soviéticos entraram em Budapeste, apoiados pela aeronáutica. Era o começo do massacre. Apesar de toda a desorganização, o povo tentou enfrentar os invasores, em combates sangrentos. Soldados húngaros seguiram o exemplo do povo e entraram na luta. Mas os tanques falaram mais alto. Três mil pessoas foram mortas e 14 mil foram feridas. Os tanques passaram por cima dos sonhos dos húngaros.

A INVASÃO DA CHECOSLOVÁQUIA

O povo da Checoslováquia (hoje dividida em duas nações: Checa e Eslováquia) experimentou, também, em 1968, os sonhos de uma liberdade, conhecida como a “Primavera de Praga”. Conheceu também a realidade de uma repressão implacável, por parte dos seus aliados da Cortina de Ferro, liderados pela União Soviética.

A Checoslováquia era governada por Alexander Dubcek, que imprimiu ao país reformas que buscavam um “socialismo humanizado”, estimulando a criatividade artística e científica. As lideranças stalinistas foram afastadas, procedeu-se à descentralização e à liberação do sistema, com amplo apoio de operários, intelectuais e estudantes.

O Comitê Central do Partido Comunista da Checoslováquia elaborou, então, o projeto para “renovação do socialismo“, promovendo a democratização do Partido e do Estado, criando condições para uma participação ativa das massas na orientação e direção do país.

Essa renovação atingia todos os aspectos da atividade nacional: criação de novas formas de gestão socialista da economia nacional, nascimento de uma verdadeira democracia socialista, nova definição do papel dirigente da classe operária e de suas relações com a cultura e os intelectuais, construção de um verdadeiro socialismo humanista.

O fim da Primavera de Praga

Esse reformismo, entretanto, esbarrava na nova conjuntura soviética e internacional: O líder soviético Leonid Brejnev revertia a desestanilização de Nikita Krushev e, no plano externo, experimentava o endurecimento das relações com os Estados Unidos, reforçando a Guerra Fria. Como o projeto da Primavera de Praga implicava em autonomismo, colocava em risco a hegemonia soviética, ameaçando o monolitismo dos partidos comunistas nos diversos países do leste Europeu, o que estimularia a oposição e as dissidências.

As intervenções política e militar dos dirigentes da União Soviética e de alguns de seus parceiros do Pacto de Varsóvia mataram a esperança dos Checos.

A invasão foi desfechada de surpresa, na noite de 20 de 21 de Agosto, com forças da União Soviética, Alemanha Oriental, Bulgária, Polônia e Hungria. Ante a investida de 200 mil homens, que ocuparam rapidamente os pontos estratégicos de Praga e do interior do país, cortando todas as comunicações com o exterior, as autoridades locais pediram às Forças Armadas e ao povo que não resistissem. Dubcek e seus principais colaboradores foram detidos e enviados para Moscou.

Ao contrário do que ocorreu na Hungria, em l956, a Primavera de Praga foi esmagada sem matança, mas Moscou demonstrou claramente que pretendia restabelecer seu domínio absoluto sobre a Checoslováquia. A censura foi rigidamente restabelecida sobre todos os meios de comunicação e os reformistas depostos e detidos. A polícia secreta soviética assumiu o controle da situação, enquanto as forças blindadas foram mantidas no interior do país e a capital, Praga, foi obrigada a reconhecer, sob pressão direta dos dirigentes de Moscou, que “suas fronteiras ocidentais eram inseguras e deviam se defendidas“.

No dia 04 de Outubro, processou-se o desmantelamento total da Primavera de Praga. A União Soviética anunciou a conclusão de um “acordo“, nos termos do qual suas forças permaneceriam indefinidamente na Checoslováquia.

A 30 de Outubro, o país foi dividido em Estados autônomos federados, checo e eslovaco. E a 17 de Abril de l968 ocorreu o último ato: Dubcek foi deposto e substituído por Gustavo Husak, o líder comunista designado por Moscou para restabelecer seu controle direto sobre o país invadido.

Foi o fim da Primavera de Praga.

CONCLUSÃO

As invasões da Hungria e da Checoslováquia têm sua importância  História como exemplos de imperialismo. Quando os interesses maiores de nações dominantes são afetados de nada valem os valores humanos e individuais das nações menores. Muito menos os direitos humanos e de cidadania. Fica o exemplo para que situações dessa natureza não venham a acontecer. Para isso todas as nações, não importam o seu tamanho territorial ou o número de sua população, devem amadurecer no sentido de fazer valer os seus valores e sua autodeterminação.



Imagem: Google.

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