quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A INQUISIÇÃO MODERNA


A Inquisição Moderna surgiu com toda a força na Espanha em 1478. Desta vez o alvo principal eram os judeus e os cristãos-novos, como eram chamados os recém-convertidos ao Catolicismo, acusados de continuarem praticando o Judaísmo secretamente.

Vale lembrar que os judeus alem de seus rituais próprios e não aceitos pelos cristãos vivia em condição econômica superior. Tanto que habitavam em bairros chamados, em Portugal, de “Judarias” e, na Espanha, “Aljamas” e que nas mais belas e importantes áreas das cidades, diferentes dos insalubres e sórdidos “guetos” da Europa.

“A justificativa do retorno da Inquisição era a necessidade de fiscalizar a fidelidade desses convertidos” (Historiador Nachman Falbel – USP). A verdade é que esses grupos já formavam uma poderosa burguesia urbana que atrapalhava os interesses da nobreza e do alto clero. O apoio dos reis logo aumento o poder do Santo oficio, que, para piorar, passou a considerar como heresia qualquer à fé e aos costumes. Por exemplo: quem usasse toalhas limpas no começo do sábado ou não comesse carne de porco era acusado de judaísmo. A lista de perseguidos também foi ampliada para incluir os protestantes, muçulmanos, iluministas, homossexuais e bígamos.

As punições tornaram-se bem mais pesadas com a instituição da morte na fogueira, da prisão perpétua e do confisco de bens. Esta transformou a Inquisição numa atividade altamente rentável para os cofres da Igreja. A crueldade dos inquisidores era tamanha que o próprio papa chegou a pedir aos espanhóis que contivessem tal violência.

A migração de judeus expulsos da Espanha para Portugal, a partir de 1492, fez com que a perseguição se repetisse com a criação do Santo Oficio lusitano, em 1536.

O Brasil nunca chegou a ter um Tribunal desses, mas emissários da Inquisição aportaram por aqui entre 1591 e 1767. Calcula-se que 400 brasileiros foram condenados e 21 queimados em Lisboa, para onde eram mandados os casos mais graves.

Os inquisidores portugueses fizeram 40 mil vítimas, das quais 2 mil foram mortas na fogueira. Na Espanha, até a extinção do Santo Oficio, em 1834, estima-se que quase 300 mil pessoas tenham sido condenadas e 30 mil executadas.

ASSIM FUNCIONAVA A INQUISIÇAO MODERNA

 

O julgamento

Quando a Inquisição atuava numa determinada região ou cidade, preliminarmente um grupo de padres inquisidores chegava, reunia toda a população na Igreja e anunciava que estava tendo inicio o Período da Graça, que durava um mês. Durante o qual os pecadores estavam convidados a admitirem suas heresias. Quem se confessasse, em geral se livrava de penas mais severas.

Quem não se aproveitasse o Período da Graça poderia ser denunciado. Como a Inquisição incentivava a delação, o pânico era generalizado: todos eram suspeitos em potencial. O acusado era convidado a se defender no tribunal.

O suspeito era interrogado por três inquisidores. Um deles, o inquisidor-mor, dava a sentença final. A defesa era muito difícil, pois raramente o réu tinha direito a um advogado. Para arrancar confissões, o Santo Oficio colocava espiões para acompanhar o suspeito e, ainda, recorria a terríveis práticas de tortura.

 

As torturas

O Inquisidor-mor variava a crueldade dos castigos conforme a heresia. Os mais leves incluíam deixar o acusado acorrentado, sem comer nem dormir por vários dias. Mas os relatos históricos registram outros bem mais dolorosos, como os aparelhos chamados potro, e extensão. Para amedrontar os acusados, os carrascos faziam uma demonstração de como funcionavam esses dispositivos. Para abafar os gritos, era comum colocarem colchões nas portas.

 

O Potro

A historia registra o depoimento de alguém que foi submetido a esse equipamento de tortura: “Prenderam-me com uma argola no pescoço, um anel de ferro em cada pe´ oito cordas que passavam por furos no cadafalso. Ao sinal dos inquisidores, elas foram puxadas e apertadas pelos carrascos. As cordas entravam na carne até os ossos e faziam jorrar sangue. Repetiram a tortura por quatro vezes. Perdi a consciência e fui levado de volta a minha cela sem perceber”.

A extensão

Segue outro depoimento da mesma pessoa, relatando sua experiência em outro equipamento de tortura, a extensão: “As cordas puxadas por um torniquete, faziam com que os punhos se aproximassem um do outro, por trás. Puxaram tanto que as minhas mãos se tocaram. Desloquei os dois ombros e perdi muito sangue pela boca. Repetiram três vezes o mesmo tormento antes de me devolverem à cela“.

Esse personagem, chamado Jean Coustos, líder de loja Maçônica de Lisboa, foi submetido a outras formas de torturas até confessar. Foi condenado a quatro anos de trabalhos forçados em 1744.

Torquemada, o mais desumano inquisidor.

Fanático, cruel, Intolerante. Nos registros históricos, não faltam adjetivos depreciativos para definir o frei dominicano Tomás de Turquesada (1420/1498), o mais duro inquisidor de todos os tempos. Organizador do Santo Oficio espanhol, ele era confessor e conselheiro dos reis Fernando e Izabel. Em 1483, essa influencia rendeu-lhe a nomeação de inquisidor-geral, responsável pelos 14 tribunais na Espanha e suas colônias. Logo de cara, autorizou a tortura para obter confissões, ampliou a lista de heresias e pressionou os reis a substituir a tolerância religiosa pela perseguição aos judeus e aos conversos. Resultado: ao final de sua gestão, mais de 70 mil judeus foram expulsos da Espanha e 2 mil pessoas foram mortas na fogueira.

As sentenças


O auto-de-fé

Assim era chamada a cerimônia pública em que se liam as sentenças do tribunal. Os autos-de-fé geralmente ocorriam na praça central da cidade e eram grandes acontecimentos. Quase sempre o rei estava presente. As punições iam das mais brandas (como a ex-comunhão) às mais severas (como a prisão perpétua e a morte na fogueira).

A fogueira

A execução na fogueira ficava a cargo do poder secular (justiça comum) Se o condenado renunciasse às heresias ao pé do fogo, era devolvido aos inquisidores. Se sua conversão à fé católica fosse verdadeira, até podia trocar a morte pela prisão perpétua.

Quando se descobria que um defunto havia sido herético, seu cadáver era desenterrado e queimado.

Marcas da humilhação

Para serem vistos pelo público, os prisioneiros subiam em um palco. Os que eram obrigados a vestir as chamadas marcas da infâmia, como a cruz de Santo André, chegavam a ser agredidos pela multidão. Outros levavam velas e vergastas nas mãos para serem chicoteados pelo padre durante a missa.



Imagem: Google.

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