O APARTHEID se constituiu numa das mais graves formas de violação dos direitos
humanos registradas na História da Humanidade. Caracterizou-se por ser um
sistema que pregava o desenvolvimento em separado de cada grupo racial existente
no país onde foi implantado, a África do Sul, garantindo a dominação e a
supremacia de uma minoria branca e privando a grande maioria da população não
branca, e principalmente a negra, dos mais elementares direitos políticos,
sociais e civis.
CRONOLOGIA DO APARTHEID
Eis os principais fatos que marcaram
a história da África do Sul desde o início do século passado:
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1913 - Lei da Terra , ou Ato das
Terras nativas, reserva 87% da terra aos brancos, que representam 18% da
população.
·
1948 - O Partido Nacional vence
eleições gerais propondo a institucionalização do apartheid.
·
1949 - Proibido casamento interracial.
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1950 - Aprovada Lei de Registro da
População, que classifica os sul-africanos, ao nascer, como brancos, negros,
indianos (ou asiáticos) e mestiços.
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1951 - Entra em vigor a Lei das
Áreas de Grupo, que define onde negros podem residir.
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1952 - Aprovada a Lei do Passe, que
restringe o trânsito dos negros
·
1953 - Lei regulamenta segregação
racial em logradouros públicos.
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1960 - As organizações negras
Congresso Nacional Africano (CNA) e Congresso Pan-Africanista são declaradas
ilegais.
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1960 – Massacre de Shaperville
·
1961 - O CNA se engaja na luta
armada.
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1964 - Nelson Mandela, Walter Sisulu
e outros líderes do CNA são condenados à prisão perpétua.
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1968 - ONU aprova rompimento de
relações comerciais, culturais, científicas e esportivas com a África do Sul.
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1971 - A África do Sul é expulsa do
Comitê Olímpico Internacional.
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1976 - Distúrbios em Soweto deixam
cerca de 500 mortos.
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1983 - Nova Constituição dá direito
de voto a mestiços e asiáticos.
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1984 - Abolida proibição de
casamentos e relações sexuais entre raças. O arcebispo Desmond Tutu ganha o
Prêmio Nobel da Paz.
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1985 - Estados Unidos e países da
Europa Ocidental finalmente implementam as sanções econômicas da ONU. Abolida a
Lei do Passe.
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1989 - Frederik de Klerk é eleito
presidente com plataforma reformista.
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1990 - De Klerk legaliza o Congresso
Nacional Africano, que abandona a luta armada. Mandela, aos 71 anos, deixa a
prisão. Cinco líderes do CNA, incluindo Thabo Mbeki, hoje presidente, retornam
do exílio. O Parlamento aprova lei proibindo segregação racial em logradouros
públicos. A Comunidade Econômica Européia suspende o veto a novos investimentos
na África do Sul.
·
Confrontos entre zulus e cosas
deixam 1.500 mortos.
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1991 - Crianças negras e brancas
começam a estudar juntas em escolas públicas. Abolidas as Leis da Terra, das
Áreas Residenciais e do Registro da População. A África do Sul é readmitida no
Comitê Olímpico Internacional. O presidente George Bush anuncia o fim das
sanções econômicas americanas. Anistia geral beneficia 40 mil exilados
politicos.
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1992 - Referendo com participação só
de brancos aprova fim do apartheid por 68,7% de votos a favor.
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1993 - Nova onda de confrontos entre
zulus e cosas deixa 1.200 mortos. A ONU aprova fim das sanções econômicas
contra África do Sul. De Klerk e Mandela promulgam nova Constituição que põe
fim à segregação racial.
·
1994 - Mandela é eleito presidente
da África do Sul, nas primeiras eleições multirraciais da história do país.
ATO DAS TERRAS NATIVAS
O “Ato das Terras“ arrancou o negro de seus lares e de sus terras e o
restringiu a reservas especiais, criando uma gritante desigualdade na divisão
territorial do país. As minorias brancas obtiveram a posse de 87% das terras
sul-africanas, enquanto a maioria negra ficou restrita a apenas 13% do
território.
O Ato proibia ainda que os africanos comprassem terras fora das
reservas, impedindo dessa forma que os trabalhadores rurais se tornassem agricultores
auto-suficientes e garantindo que os fazendeiros e industriais brancos
dispusessem de um inesgotável suprimento de mão-de-obra barata.
Era permitido a um pequeno número de negros viver nas cidades, desde que
realizassem serviços essenciais para os brancos. Os negros somente podiam
entrar nas cidades se nelas tivessem empregos permanentes e muitas vezes eram
obrigados a deixar suas famílias nas reservas, retornando a seus lares apenas
quando o trabalho que exerciam não era mais necessário. Muitos viviam em
bairros isolados (guetos) e passavam longas horas vagando pelas cidades em
busca de emprego.
AS LEIS DO PASSE
As “Leis do Passe” também reforçavam a supremacia branca, garantindo o
controle sobre a movimentação dos africanos. Estes necessitavam de seus
passaportes para obter emprego, viajar ou sair às ruas depois do toque de
recolher. Eram obrigados e a levá-los consigo sempre, pois a apresentação do
documento poderia ser exigida por qualquer pessoa branca, em qualquer
circunstância. A não apresentação do passaporte muitas vezes significava a
prisão ou a perda do emprego.
CATALOGAÇÃO RACIAL
Em 1948, quando o Partido Nacional Africcaaner assumiu o governo, o
Apartheid tornou-se norma constitucional e definiram-se duas leis básicas do
regime de segregação.
A primeira é a do registro de nascimento: toda criança ao nascer recebe
uma catalogação racial, podendo ser, depois de um demorado exame em que se
analisavam até suas unhas, classificada como branca, negra, mestiça ou
asiática.
A segunda lei decorre da primeira, com base na catalogação; essa pessoa
só podia morar em determinadas áreas. Mesmo que tivesse dinheiro para comprar
uma mansão num subúrbio branco, o negro rico era obrigado a viver numa cidade
dormitório.
TENTATIVA DE JUSTIFICAÇÃO
Para justificar o Apartheid, os africaaners passaram a argumentar que os
graus de civilização e os antecedentes culturais dos brancos e dos negros eram
profundamente diferentes. Por isso, seria melhor que os dois grupos se
desenvolvessem separadamente. Insistiam em que os africanos estavam divididos
em tantas tribos - cada qual com sua própria língua, cultura e identidade - que
não podiam ser considerados como um grupo único. Somando essas idéias aos
conceitos contidos no Ato das Terras Nativas, dividiram os africanos em dez
tribos “diferentes” - os bantustões (lares bantos) - criadas a partir das
antigas reservas nativas.
Esses bantustões, denominados territórios negros autônomos, foram
instituídos em 1951. Atualmente existem 10 deles e esse sistema foi condenado
pela ONU (Organização das Nações Unidas), denunciando-o como uma tática para
dividir os negros, jogando um grupo contra o outro, enfraquecendo a frente
africana na sua luta pelos justos e inalienáveis direitos e, também, eternizar
o domínio da minoria branca. Quatro desses bantustões, na década de 70, foram
elevados à categoria de Estados Independentes.
A RESISTENCIA E O FIM DO
APARTHEID
A resistência ao Apartheid começou logo após o seu processo de
implantação, através de atividades políticas, principalmente das camadas mais
jovens da população negra. Inconformadas com a situação que se apresentava,
lideradas por Oliver Tambo, Walter Sisulo e Nelson Mandela, logo engrossadas
por outras camadas da população, passaram a lutar pelos direitos de sua gente,
enfrentando as mais duras represálias das autoridades brancas.
Mas foi após o massacre no gueto de Shaperville, em Março de 1960,
quando 10 mil negros protestavam contra a lei do passe e a polícia fuzilou 77
pessoas, despertando enorme onda de protestos no mundo inteiro.
Entretanto, essa reação fez aumentar ainda mais o rigor do regime
racista.
Diante disso, os líderes negros decidiram partir para a reação violenta
e criaram o que se convencionou chamar de o braço
armado do CNA (Congresso Nacional Africano), isto é o grupo chamado “A
Lança da Nação“ para atuarem com ações de terrorismo e guerrilha na tentativa
de fazer valer as reivindicações da população negra.
As posições se radicalizaram e outros massacres se seguiram.
Em 1963 Nelson Mandela foi preso e condenado à prisão perpétua. Outros
líderes fugiram do país e no exterior continuaram a luta contra o Apartheid. A
desobediência civil e a guerrilha foram aumentando a cada ano.
Além do apoio de centenas de grupos anti-apartheid e do Arcebispo Anglicano
Desmond Tutu (Prêmio Nobel da Paz de 1984), o CNA procurou se fortalecer ao
exílio (Exterior) através de negociações da liderança, chefiada por Oliver
Tambo, com embaixadores estrangeiros e empresários brancos sul-americanos.
Como vimos na cronologia, a oposição internacional ao Apartheid
tornou-se cada vez maior nos anos 80, manifestando-se por boicotes comerciais,
retiradas de empresas de investimento estrangeiros, cortes de créditos, etc...
Diante disso o governo branco teve de ceder e começou um logo processo de
reformas, culminando com a libertação de Mandela, anistia, plebiscito e
eleições gerais, nas quais o líder Nelson Mandela foi eleito presidente,
iniciando o longo caminho para resgatar a cidadania e a dignidade humana dos
negros sul-africanos.
O governo de Mandela por varios meses tratou de reorganizar e depois
disso adotou uma politica de aproximaçao com o exterior, fazendo viagens com o
objetivo de fazer acordos para investimentos no seu país, procurando promover o desenvolvimento interno
e procurando, com isso, tirar definitivamente a África do Sul do isolamento em
que se encontra.
MANDELA (Nelson Rolihlahla)(foto),
ativista político negro da África do Sul (Transkei, 1918-2013), lutou contra o
apartheid e ficou preso durante 27 anos, sob acusação de ter criado o Umkonto
we Sizwe, braço armado do Congresso Nacional Africano. Libertado em 1990,
dedicou-se às negociações por uma Constituição democrática não racista. Eleito
presidente da República em 1994. Prêmio Nobel da Paz, 1993.
A
AFRICA DO SUL POS-APARTHEID
Terminado o regime do Apartheid e a implantação da democracia
multirracial, a situação da população negra não melhorou como num passe de
magica. Outros flagelos se abateram sobre a nação:
·
O desemprego
·
A criminalidade
·
A AIDS
Com o final das
sanções econômicas impostas pela comunidade internacional, muitas companhias
transnacionais de tecnologia da informação, instalaram-se no país, mas elas geraram poucos empregos, e
só para quem tem formação profissional.
"O desemprego e a mudança no padrão
do trabalho não são um problema só na África do Sul, mas um fenômeno
mundial", pondera Carol Allais, chefe do
Departamento de Sociologia da Universidade da África do Sul, em Pretória. Mas a
particularidade da África do Sul está em que a instituição da democracia
multirracial, que tirou o país da condição de pária e o inseriu de volta no
mercado internacional, coincidiu com a consolidação da globalização e da nova
economia.
Com isso, o fim do Apartheid, em vez de eliminar, deu nova feição ao
sentimento de exclusão dos negros sul-africanos, aos quais esteve reservado um
ensino muito inferior ao dos brancos.
A criminalidade
cresceu muito, tendo como causa
fundamental o desemprego. Muitos até acham que na época do Apartheid era
mais fácil trabalhar, mesmo ganhando pouco.
Alem disso ficou muito
difícil a convivência pacifica e harmoniosa entre negros e brancos.
A AIDS
O flagelo da AIDS atingiu em cheio a África do Sul ( Alguns dizem que
ele veio substituir o apartheid). Um em cada quatro sul-africanos de 15 a 49 anos de idade está
infectado pelo vírus. No total, são cerca de 5 milhões. Muitos sul-africanos
ainda não conhecem ou se recusam a usar preservativos, numa sociedade de
intensa promiscuidade sexual. Um componente da alta criminalidade na África do
Sul são os freqüentes casos de estupro, muitas vezes por homens infectados. Há
um mito, entre os mais ignorantes, de que uma relação com uma virgem os
curaria.
Até o fim do ano passado, o governo de Thabo Mbeki (que sucedeu Mandela)
mantinha uma posição tímida em relação ao problema. O presidente chegou a
afirmar que as drogas anti-retrovirais, amplamente usadas no mundo, poderiam
ter efeitos colaterais tão graves quanto a doença. Os médicos de hospitais
públicos não tinham permissão para prescrever essas drogas e algumas
instituições de caridade contrabandeavam do Brasil a versão genérica dos
medicamentos.
Mais recentemente, porem, o governo instituiu novas diretrizes,
respaldando o uso das drogas anti-retrovirais. Nos hospitais públicos, elas passaram
a ser dadas a bebês que nascem infectados.
Mas a maioria dos infectados não têm acesso a essas drogas, que
continuam muito caras. Mas recebem em Clinicas Publicas, comprimidos de
vitaminas B e C e orientações sobre a alimentação.
O APARTHEID deixou marcas
profundas na África do Sul e um exemplo que
NÃO pode ser seguido.
Importante: A
atualização dos dados referentes à África do Sul foi possível graças a
reportagem de Lourival Sant’Ana para o Jornal O Estado de São Paulo, edição de
15 de Setembro de 2002.
Imagem:
Google
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