terça-feira, 11 de novembro de 2014

O TRABALHO NA IDADE MODERNA


A decadência das corporações de ofício


Como vimos nas aulas anteriores Corporações de Ofício entraram em decadência devido o crescimento e a diversificação das atividades urbanas, aliadas ao enriquecimento e monopolização dos mestres, prejudicando o desenvolvimento dos demais trabalhadores das oficinas.

 

Além disso, a crescente atividade comercial trouxe também o desenvolvimento do sistema bancário, modificações nos métodos de produção, bem como novas relações de trabalho.

 Assim, o sistema de manufatura criado pelas corporações de ofício entrou em decadência. As próprias corporações dominadas pelos mestres, tinham-se tornado egoístas e exclusivistas. Delas participavam, apenas umas poucas famílias privilegiadas. Além disso, estavam tão marcadas pela tradição que eram incapazes de ajustar-se às novas realidades históricas. Além disso, haviam surgido novas industrias inteiramente fora do sistema corporativo. Exemplos típicos eram a mineração, a fundição de minérios e a industria de lã. O rápido desenvolvimento dessas atividades  foi estimulado por progressos técnicos como a invenção da roda de fiar e do tear para tecer meias.  Nas industrias de mineração e  fundição de minérios foi adotada uma forma de organização muito semelhante à que chegou até os dias de hoje. o sistema fabril.

O trabalho doméstico ou de encomenda

No entanto, a forma de produção industrial mais típica desse período de transição foi o sistema doméstico, adotado primeiramente na industria da lã. Nesse sistema o trabalho era executado pelos artífices em suas próprias casas, e não nas oficinas. Como as várias tarefas envolvidas na manufatura de um produto eram distribuídas por empreitada, o sistema é também conhecido como sistema de encomenda. A organização era bastante capitalista, pois as  matérias-primas eram compradas por um empresário e distribuídas aos trabalhadores, cujas tarefas eram realizadas em troca de um pagamento combinado.  No caso da industria da lã, o fio era distribuído primeiro aos fiandeiros e, depois, sucessivamente, aos tecelões, pisoeiros e tingidores. Uma vez pronto o pano, o industrial o recolhia e vendia no mercado livre pelo melhor preço possível.

O sistema doméstico não se restringia, é claro, à manufatura  da lã. Com o passar do tempo, estendeu-se a muitos outros campos de produção. Harmonizava-se com a valorização da riqueza e com a concepção de uma economia dinâmica, geradora de lucros. Não havia associação de rivais para criticar a qualidade de seus produtos ou os salários pagos aos operários. E os empresários estavam livres para expandir da melhor forma os seus negócios, além de introduzir novas técnicas capazes de reduzir os custos ou aumentar o volume da produção.

O sistema doméstico apresentava vantagens para os trabalhadores
·        Embora os salários fossem baixos, não havia horário regular de trabalho;
·        Era possível ao trabalhador suplementar os rendimentos da família com o cultivo de um pequena pedaço de terra.

·        As condições de trabalho em casa eram saudáveis e o trabalhador podia colocar no esquema de produção os membros da família;
·        A ausência de chefes para controlar os trabalhos.

 

Havia também algumas desvantagens...
·     Os operários permaneciam muito espalhados para se organizar com eficiência

·     Em conseqüência disso, não tinham meios de se proteger contra empregadores desonestos que lhes sonegavam parte dos salários ou que os forçavam a aceitar o pagamento em gêneros.


Transição para o sistema fabril

Nos últimos tempos desse período, os operários se tornaram cada vez mais dependentes dos capitalistas, que passaram a fornecer-lhes não só as matérias-primas como também as ferramentas e utensílios. Em alguns casos os operários eram reunidos em grandes oficinas centrais e obrigados a trabalhar dentro de uma rotina fixa. Estava chegando o sistema fabril.

 

A transição da industria doméstica para o sistema fabril não se fez, naturalmente, da noite para o dia. O fio de algodão continuou a ser produzido em casa, ao mesmo tempo em que era feito em fábricas. Por fim, entretanto, o baixo custo da construção e operação de uma grande fábrica, além da eficiência obtida com os trabalhadores reunidos sob um mesmo teto, fez com que fábricas de maior parte substituíssem as oficinas menores. A tecelagem, porém, continuou a ser uma industria doméstica até que a invenção de um tear mecânico barato e prático convenceu os empresários de que poderiam poupar dinheiro transferindo o processo de fabricação das casas dos artesãos para as fábricas.

 

O trabalho nas fábricas

Aqui o depoimento bastante ilustrativo do historiador e jornalista Heródoto Barbeiro:


“As condições de trabalho eram desumanas. Não existia legislação trabalhista nem proteção do Estado à classe trabalhadora. Assim, o trabalho nas fábricas processava-se em ambientes úmidos e insalubres. Nas tecelagens, os fios pingavam e os operários trabalhavam com os pés na água. As jornadas de trabalho atingiam até 16 horas por dia. O salário dava apenas para manter o trabalhador vivo. Nas minas de carvão havia infiltração de água. Os trabalhadores estavam sujeitos aos desabamentos, explosões e asfixia pelos gases. Não havia indenização para as viúvas. As crianças órfãs eram lançadas aos orfanatos A prostituição era a opção para as mulheres que não tinham condições de sobrevivência.


Não havia alimentos industrializados. A tuberculose grassava terrivelmente. As moradias  eram desprovidas de água e esgoto. As epidemias dizimavam populações inteiras. A fome e a miséria levavam ao alcoolismo, aos assaltos e roubos.

Na procura de mão-de-obra mais barata, utilizou-se das mulheres e crianças. As mulheres não tinham legislação especial que as protegesse. Os homens perdiam o emprego em função de u’a mão-de-obra mais barata ou do advento da maquinaria, o que significava desemprego e a fome. As crianças que trabalhavam nas fábricas eram obrigadas a morar na própria industria. Muitas morriam de fome, frio e excesso de trabalho. Os acidentes com máquinas faziam grande número de vítimas. Há registros de que crianças de ambos os sexos, até mesmo de quatro anos, trabalhavam numa tecelagem...”

Conseqüências do Trabalho Fabril

 “As transformações  levadas a efeito pela Revolução Industrial inglesa foram muito  mais sociais que técnicas, tendo em vista que ‘e nessa fase que se consubstancia a diferença crescente entre ricos e pobres”. ( Eric Hobsbawn - Historiador )

Com as manufaturas, o capital cada vez  mais se concentrou nas mãos da minoria  burguesa, enquanto crescia o numero  de trabalhadores, despossuídos de instrumentos de trabalho, cuja qualidade de vida decresceu sensivelmente

.Houve uma intensificação da miséria e da pobreza. As camadas populares compostas por camponeses afetados pelos cercamentos, artesãos da pequena indústria rural e trabalhadores das oficinas ou das fábricas, empobreceram tanto a ponto de parecerem um grande número de indigentes.

As condições subumanas de trabalho, as horas excessivas de atividade e a baixa remuneração foram a causa de violentas manifestações por parte dos operários que tentavam destruir as máquinas das fábricas, identificadas como causa de sua existência miserável.

Entre essas manifestações destaca-se o movimento ludita, iniciado em 1811, Mas esse movimento, que espalhou o terror nos distritos industriais do centro da Inglaterra, foi violentamente reprimido pela classe dominante.

Concluindo...
Desde o momento em que começou a transformação a industrial, com a introdução da máquina no processo produtivo, mudanças profundas afetaram todas as formas de vida da sociedade.

A Revolução Industrial e o sistema fabril permitiram que o capitalismo com base na transformação técnica, atingisse seu processo específico de produção. O trabalhador dispõe apenas da força de trabalho, enquanto o capitalista detém a propriedade dos meios de produção, causando uma radical separação entre capital e trabalho.

A Revolução industrial  foi, portanto, mais do que um episódio importante na história econômica e tecnológico do mundo. Ela contribuiu para reformular a vida de homens e mulheres, primeiro na Grã-Bretanha, depois na Europa continental e nos Estados Unidos, e por fim em grande parte do mundo. Mediante o aumento da escala de produção, a Revolução Industrial criou o sistema fabril, que por sua vez determinou o êxodo de milhões de pessoas do interior para as cidades. Depois de migrarem, esses homens e mulheres tinham de aprender rapidamente um novo estilo de vida, sobrevivendo no cortiço, organizarem-se de  acordo com o apito da fábrica.



Imagem: Google.

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