A decadência das
corporações de ofício
Como vimos nas aulas
anteriores Corporações de Ofício entraram em decadência devido o crescimento e
a diversificação das atividades urbanas, aliadas ao enriquecimento e
monopolização dos mestres, prejudicando o desenvolvimento dos demais
trabalhadores das oficinas.
Além disso, a
crescente atividade comercial trouxe também o desenvolvimento do sistema
bancário, modificações nos métodos de produção, bem como novas relações de
trabalho.
Assim, o sistema de manufatura criado pelas
corporações de ofício entrou em decadência. As próprias corporações dominadas
pelos mestres, tinham-se tornado egoístas e exclusivistas. Delas participavam,
apenas umas poucas famílias privilegiadas. Além disso, estavam tão marcadas
pela tradição que eram incapazes de ajustar-se às novas realidades históricas.
Além disso, haviam surgido novas industrias inteiramente fora do sistema
corporativo. Exemplos típicos eram a mineração, a fundição de minérios e a
industria de lã. O rápido desenvolvimento dessas atividades foi estimulado por progressos técnicos como a
invenção da roda de fiar e do tear para tecer meias. Nas industrias de mineração e fundição de minérios foi adotada uma forma de
organização muito semelhante à que chegou até os dias de hoje. o sistema
fabril.
O trabalho doméstico ou de
encomenda
No entanto, a forma de
produção industrial mais típica desse período de transição foi o sistema
doméstico, adotado primeiramente na industria da lã. Nesse sistema o trabalho
era executado pelos artífices em suas próprias casas, e não nas oficinas. Como
as várias tarefas envolvidas na manufatura de um produto eram distribuídas por
empreitada, o sistema é também conhecido como sistema de encomenda. A
organização era bastante capitalista, pois as
matérias-primas eram compradas por um empresário e distribuídas aos
trabalhadores, cujas tarefas eram realizadas em troca de um pagamento
combinado. No caso da industria da lã, o
fio era distribuído primeiro aos fiandeiros e, depois, sucessivamente, aos
tecelões, pisoeiros e tingidores. Uma vez pronto o pano, o industrial o
recolhia e vendia no mercado livre pelo melhor preço possível.
O sistema doméstico não se
restringia, é claro, à manufatura da lã.
Com o passar do tempo, estendeu-se a muitos outros campos de produção.
Harmonizava-se com a valorização da riqueza e com a concepção de uma economia
dinâmica, geradora de lucros. Não havia associação de rivais para criticar a
qualidade de seus produtos ou os salários pagos aos operários. E os empresários
estavam livres para expandir da melhor forma os seus negócios, além de
introduzir novas técnicas capazes de reduzir os custos ou aumentar o volume da
produção.
O sistema doméstico
apresentava vantagens para os trabalhadores
·
Embora os salários fossem baixos,
não havia horário regular de trabalho;
·
Era possível ao trabalhador
suplementar os rendimentos da família com o cultivo de um pequena pedaço de
terra.
|
·
As condições de trabalho em casa
eram saudáveis e o trabalhador podia colocar no esquema de produção os
membros da família;
·
A ausência de chefes para
controlar os trabalhos.
|
Havia também algumas
desvantagens...
· Os operários permaneciam muito espalhados para se organizar com
eficiência
· Em conseqüência disso, não tinham
meios de se proteger contra empregadores desonestos que lhes sonegavam parte
dos salários ou que os forçavam a aceitar o pagamento em gêneros.
Transição para o sistema fabril
Nos últimos tempos desse período, os operários se tornaram
cada vez mais dependentes dos capitalistas, que passaram a fornecer-lhes não só
as matérias-primas como também as ferramentas e utensílios. Em alguns casos os
operários eram reunidos em grandes oficinas centrais e obrigados a trabalhar
dentro de uma rotina fixa. Estava chegando o sistema fabril.
A transição da industria doméstica para o sistema fabril não
se fez, naturalmente, da noite para o dia. O fio de algodão continuou a ser
produzido em casa, ao mesmo tempo em que era feito em fábricas. Por fim,
entretanto, o baixo custo da construção e operação de uma grande fábrica, além
da eficiência obtida com os trabalhadores reunidos sob um mesmo teto, fez com
que fábricas de maior parte substituíssem as oficinas menores. A tecelagem,
porém, continuou a ser uma industria doméstica até que a invenção de um tear
mecânico barato e prático convenceu os empresários de que poderiam poupar
dinheiro transferindo o processo de fabricação das casas dos artesãos para as
fábricas.
O trabalho nas fábricas
Aqui o depoimento bastante
ilustrativo do historiador e jornalista Heródoto Barbeiro:
“As condições de trabalho eram desumanas. Não existia
legislação trabalhista nem proteção do Estado à classe trabalhadora. Assim, o
trabalho nas fábricas processava-se em ambientes úmidos e insalubres. Nas
tecelagens, os fios pingavam e os operários trabalhavam com os pés na água. As
jornadas de trabalho atingiam até 16 horas por dia. O salário dava apenas para
manter o trabalhador vivo. Nas minas de carvão havia infiltração de água. Os
trabalhadores estavam sujeitos aos desabamentos, explosões e asfixia pelos
gases. Não havia indenização para as viúvas. As crianças órfãs eram lançadas
aos orfanatos A prostituição era a opção para as mulheres que não tinham
condições de sobrevivência.
Não havia alimentos industrializados. A tuberculose grassava
terrivelmente. As moradias eram
desprovidas de água e esgoto. As epidemias dizimavam populações inteiras. A
fome e a miséria levavam ao alcoolismo, aos assaltos e roubos.
Na procura de mão-de-obra mais barata, utilizou-se das mulheres e
crianças. As mulheres não tinham legislação especial que as protegesse. Os
homens perdiam o emprego em função de u’a mão-de-obra mais barata ou do advento
da maquinaria, o que significava desemprego e a fome. As crianças que
trabalhavam nas fábricas eram obrigadas a morar na própria industria. Muitas
morriam de fome, frio e excesso de trabalho. Os acidentes com máquinas faziam
grande número de vítimas. Há registros de que crianças de ambos os sexos, até
mesmo de quatro anos, trabalhavam numa tecelagem...”
Conseqüências do Trabalho
Fabril
“As transformações levadas a efeito pela Revolução Industrial
inglesa foram muito mais sociais que
técnicas, tendo em vista que ‘e nessa fase que se consubstancia a diferença
crescente entre ricos e pobres”. ( Eric Hobsbawn - Historiador )
Com as manufaturas, o capital cada vez
mais se concentrou nas mãos da minoria
burguesa, enquanto crescia o numero
de trabalhadores, despossuídos de instrumentos de trabalho, cuja
qualidade de vida decresceu sensivelmente
.Houve uma intensificação da miséria e da pobreza. As camadas populares
compostas por camponeses afetados pelos cercamentos, artesãos da pequena
indústria rural e trabalhadores das oficinas ou das fábricas, empobreceram
tanto a ponto de parecerem um grande número de indigentes.
As condições subumanas de trabalho, as horas excessivas de atividade e a
baixa remuneração foram a causa de violentas manifestações por parte dos
operários que tentavam destruir as máquinas das fábricas, identificadas como causa
de sua existência miserável.
Entre essas manifestações destaca-se o movimento ludita, iniciado em
1811, Mas esse movimento, que espalhou o terror nos distritos industriais do
centro da Inglaterra, foi violentamente reprimido pela classe dominante.
Concluindo...
Desde o momento em que começou a transformação a industrial, com a
introdução da máquina no processo produtivo, mudanças profundas afetaram todas
as formas de vida da sociedade.
A Revolução Industrial e o sistema fabril permitiram que o capitalismo
com base na transformação técnica, atingisse seu processo específico de
produção. O trabalhador dispõe apenas da força de trabalho, enquanto o
capitalista detém a propriedade dos meios de produção, causando uma radical
separação entre capital e trabalho.
A Revolução industrial foi,
portanto, mais do que um episódio importante na história econômica e
tecnológico do mundo. Ela contribuiu para reformular a vida de homens e
mulheres, primeiro na Grã-Bretanha, depois na Europa continental e nos Estados Unidos,
e por fim em grande parte do mundo. Mediante o aumento da escala de produção, a
Revolução Industrial criou o sistema fabril, que por sua vez determinou o êxodo
de milhões de pessoas do interior para as cidades. Depois de migrarem, esses
homens e mulheres tinham de aprender rapidamente um novo estilo de vida,
sobrevivendo no cortiço, organizarem-se de
acordo com o apito da fábrica.
Imagem:
Google.
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