Questão Social é o conjunto de problemas sociais criados
pela Revolução Industrial, a partir do
século XIX. Com o advento da grande industria, através do capitalismo liberal,
um grande número de pessoas abandonou os campos e se concentrou nos subúrbios.
O sistema capitalista, funcionando sob a pressão de uma
concorrência feroz, procurava por todos os meios, reduzir os custos de
produção, exigindo até quinze horas de trabalho diário, por salários
insuficientes para a simples subsistência do operário. Mulheres, e até as
crianças de seis anos, eram assim obrigadas a se empregar em manufaturas. A
família operária, para de algum modo subsistir, era reduzida às condições mais
miseráveis de alimentação, de saúde e de habitação.
Por outro lado, a destruição das corporações medievais e a
inexistência do sindicalismo deixavam os operários isolados, totalmente à mercê
do patrão, que também se via pressionado pelas regras do jogo do mercado
capitalista.
Essas terríveis condições de trabalho e de vida, levaram os
operários, a principio, a identificarem as máquinas, e não os empresários, como
responsáveis por sua situação de miséria. Aos poucos, percebendo com mais
clareza a origem de seus problemas, o operariado começou a reivindicar melhores
condições de trabalho, salários mais altos e o reconhecimento do direito de
associação. A situação evoluiu inevitavelmente para uma luta crescente entre o
capital e o trabalho, que se manifestava em conflitos, greves, violências. E
nessa situação, os operários contaram com o apoio de jornais e periódicos, onde
encontraram defensores de seus interesses
Karl Marx dizia que a raiz profunda do problema estava na
apropriação dos meios de produção pelos dono do capital. Julgava, assim, que a
solução seria a transferência desta propriedade para o Estado Coletivista.
O ludismo
Movimento Operário inglês de protesto, que se desenvolveu no
inicio do Século XIX, mediante a destruição de alguns tipos de máquinas
industriais, buscava melhoria salariais e frear a completa mecanização do ciclo
de produção têxtil. O nome tem origem no líder do movimento “Nedd Ludd“, o
primeiro operário têxtil a quebrar o tear do patrão. Seus seguidores foram
batizados de “ludders” ou “ludites” (luditas).
O verdadeiro ludismo eclodiu na Inglaterra entre 1811 e
1817, com ataques a fábricas em várias cidades inglesas.
Houve grande repressão policial e os proprietários logo se
articularam, conseguindo que o Parlamento inglês aprovasse leis que puniam com
a morte os acusados de destruição das máquinas.
O cartismo
Mas foi diante da crise econômica instalada na Inglaterra
por volta de 1815, que os trabalhadores fizeram greves e rebeliões na fábricas
minas e cidades, reivindicando melhores empregos, salários mais altos e
assistência social mais adequada.
Dessa forma e para adequar as agitações populares, foi
concedido, em 1824 o direito de associação e greve e reconhecidos os sindicatos
locais, apenas como entidades de auxílio mútuo dos trabalhadores. Paralelamente
foram aprovadas leis para disciplinar o trabalho nas fábricas, as quais
beneficiaram apenas os patrões.
Com a repercussão da Revolução Liberal de 1829, ocorrida na
França, o parlamento inglês concedeu em 1832 o direito de voto para a classe
média urbana e para os pequenos proprietários e rendeiros rurais. Porém, deixou
à margem imensas legiões de trabalhadores agrícolas e industriais. Isso levou a
classe trabalhadora a perceber que sua participação política era
imprescindível, pois somente conquistando o direito de voto ela poderia concretizar
suas propostas.
Em conseqüência de outra séria crise industrial e comercial,
surgiu em 1836 a
Associação dos Operários, que organizou o Movimento Cartista, usando como arma
de luta grandes manifestações de massa e o encaminhamento de centenas de cartas
e petições ao Parlamento.
A primeira Carta do Povo, elaborada em 1838, continha o
programa do movimento que defendia:
· o sufrágio universal masculino;
· a abolição do voto censitário para a
Câmara dos Deputados;
· a votação secreta
· a remuneração dos deputados da
Câmara dos Comuns, para tornar possível aos trabalhadores candidatarem-se aos
postos legislativos
· reeleição anual do Parlamento
Entretanto, mesmo ganhando adeptos e atingindo seu apogeu em
1942, o Movimento Cartista teve suas petições sistematicamente recusadas pelo
Parlamento e ainda se dividiu em duas
correntes:
· a reformista, que defendia uso meios
pacíficos para atingir seus objetivos
· a revolucionária, que propunha
movimentos armados. (Opção que levou à prisão de muitos militantes operários
que foram processados por tentarem articular uma greve geral em favor das
reivindicações)
Só mais tarde é que o Parlamento Inglês passou a
incorporar, ainda que lentamente,
algumas das propostas dos operários.
Os socialistas utópicos
Do esforço burguês para apaziguar as agitações operárias,
surgiram na Europa alguns reformadores sociais que puseram em prática
experiências, visando disciplinar as relações de trabalho, profundamente
alteradas após a Segunda Revolução Industrial.
O pioneiro dessas reformas foi Robert Owen (1771- 1858),
proprietário da fábrica de algodão em New Lanark, na Escócia. Nessa região,
Owen criou uma colônia-modelo, regulamentando a jornada de trabalho em 10h30m por dia, abrindo armazéns para os operários
e criando creches e escolas para as crianças.
Após essa experiência, apresentou um projeto social baseado
no sistema das colônias autogeridas (cooperativas), que aboliam a propriedade
privada. Aplicou esse projeto nos Estados Unidos, onde adquiriu uma fazenda, no
estado de Indiana .
Mas Owen fracassou, principalmente porque suas idéias
atingiam o principio inviolável da época, ou seja, o regime de propriedade
privada.
Experiências semelhantes foram testadas na França por Saint
Simon, Fourier, Louis Blanc, Blanqui e Prodhon.
Porém, as tentativas de criar uma forma socialista de
produção, dentro de países com forte presença da burguesia capitalista na
sociedade, não frutificaram.
Muito embora apresentassem capacidade crítica para perceber
os males que atingiam os trabalhadores da sociedade industrial, os socialistas
utópicos não conseguiram elaborar um projeto objetivo e concretamente aplicável
à realidade social. A maior crítica feita a esses pensadores é o fato de terem
pretendido implantar reformas sem que os trabalhadores participassem
efetivamente do poder político.
Os socialismo científico
Na Europa do século XIX surgiu uma teoria que propôs uma nova forma de conhecimento da realidade e
da ação efetiva da classe trabalhadora. Seu principal articulador foi Karl Marx
(1818-1883) que, em colaboração com Friedrich Engels (1820-1895), lançou bases
do socialismo científico, através das obras: Manifesto Comunista (1848),
Contribuição à crítica Econômica Política (1859) e O Capital (1867).
Analisando a realidade social em que viviam, Marx e Engels
perceberam que ela era dinâmica e contraditória. Enquanto o avanço técnico
permitia o domínio crescente sobre a natureza, gerando o progresso e o
enriquecimento de alguns homens, a classe operária era cada vez mais explorada,
empobrecida e afastada dos bens materiais de que necessitava para viver.
Portanto, era fundamental estudar os fatores materiais ( econômicos e técnicos)
e a forma como os bens eram produzidos, para poder compreender a sociedade e
explicar sua revolução.
Segundo Marx (Foto(, pelo trabalho, o homem transforma a natureza,
produzindo bens para atender a suas necessidades. Nesse processo de produção de
bens, as pessoas estabelecem relações entre si. As relações estabelecidas entre
os capitalistas, proprietários dos meios de produção (terra, matérias - primas,
máquinas e instrumentos de trabalho), e os trabalhadores são chamadas “Relações
Sociais de Produção” ou Modo de Produção Capitalista
A luta de classes
No modo de produção capitalista, duas classes sociais
básicas se opõem: os proprietários dos meios de produção (burguesia) e os que
possuem apenas sua força de trabalho (proletariado). A luta entre essas classes
vem se verificando desde o momento em que a burguesia, como classe dominante,
forjou e impôs seus instrumentos de
dominação. O Estado burguês., o
direito burguês e a ideologia burguesa, em todas as suas formas.
Karl Marx e a
Mais-Valia
Os capitalistas - minoria
proprietária dos meios de produção -
exploram a maioria operária, obrigada a vender sua força de
trabalho em troca de um salário. Todavia este salário é muito inferior ao valor
produzido diariamente pelo trabalho operário. Essa diferença a mais, apropriada
pelos patrões, chamada por Marx de Mais-Valia, constitui a base essencial da
acumulação de riqueza pelos donos do capital. Portanto os interesses das duas
classes sociais básicas, dentro do modo de produção capitalista, são
irreconciliáveis, gerando e reforçando a luta de classes.
Rumo ao Comunismo
Para reverter esse processo, a classe trabalhadora, subjugada e
explorada, deveria atacar a burguesia
naquilo que constitui a base da
sociedade burguesa, isto é o sistema de produção capitalista. Para tanto, o
proletariado deveria organizar-se em sindicatos e partidos políticos
trabalhistas e revolucionários, atingindo
assim a consciência de classe, pois somente desse modo teria condições de
conquistar o poder e destruir o Estado burguês. Como resultado desse processo
global de mudança, o capitalismo seria substituído pelo socialismo, baseado na propriedade social (e não privada) dos meios
de produção. O socialismo possibilitaria
alcançar a fase do comunismo, no qual deixaria de existir as classes
sociais e o próprio Estado.
As Internacionais Socialistas
Na tentativa de dotar todo o movimento operário internacional da
necessária consciência de classe, Marx e Engels fundaram a Associação
Internacional dos Trabalhadores, a qual organizou a Primeira Internacional,
realizada em Londres em 1864, reunindo sindicatos ingleses, bem como
representantes de trabalhadores da França, Hungria, Itália e Polônia.
Entretanto, assembléia não chegou a resultados concretos no sentido de
elaborar um programa de ação comum, pois Marx acabou entrando em choque com
outros líderes, principalmente os seguidores de Proudhon e os anarquistas,
discípulos de Bakunin, devido às divergências quanto as táticas a serem
seguidas. Com a formação de grupos e partidos operários de tendências muito
diferenciadas, a Primeira Internacional, não atingiu a massa operária nem
concretizou seus propósitos, sendo obrigada a se dissolver em 1876.
A Segunda Internacional
reuniu-se em Paris em 1889 já com um sentido mais reformista e menos
revolucionário e adotando os ideais da Social Democracia Alemã, primeiro
partido político socialista. Agora defendia-se que o socialismo seria alcançado
lentamente, pelas reformas, pelo voto, pela via parlamentar. Mas a união dos
trabalhadores foi breve: no inicio do século XX os marxistas revolucionários,
liderados por Lênin e Rosa de Luxemburgo, opuseram-se aos moderados. A segunda
Internacional incluiu a greve geral como estratégia de luta e fixou o dia
Primeiro de Maio como o dia Internacional do trabalho, exigindo a jornada de
trabalho de oito horas. Entretanto, com a eclosão da Primeira Guerra mundial,
em 1914, a
Segunda Internacional se desintegrou, pois
os trabalhadores dividiram-se ideologicamente de acordo com o
alinhamento de seus países na guerra.
A Terceira Internacional foi formada somente após a Revolução Russa de
1917, em Moscou, assumindo o nome de Internacional Comunista (Comitern), que
seria o embrião dos partidos comunistas.
Os trabalhadores que
pertenciam à Segunda Internacional tomaram uma posição contrária aos
revolucionários russos e tentaram reorganizá-la, a partir de 1923 com o nome de
Internacional Socialista, base dos partidos socialistas.
A partir de então,
comunistas e socialistas separaram-se defendendo práticas e visões de mundo
completamente diferentes. Enquanto os
socialistas passaram a ser rotulados pelos comunistas de seguidores do reformismo
utopista, os comunistas eram acusados de radicais e revolucionários.
O Primeiro de Maio
Em Chicago, nos Estados Unidos, na década de 80 do século passado o
movimento operário era muito ativo. No dia Primeiro de Maio de 1886 os
trabalhadores marcaram uma greve geral para pressionar os patrões por uma
jornada diária de oito horas de trabalho. A burguesia industrial, associada à
prefeitura da cidade, desencadeou uma violenta repressão aos grevistas, que
foram massacrados pela policia e por pistoleiros profissionais da famosa
Agência Pinkerton de detetives. Todos os anarquistas conhecidos foram presos e
julgados. Quatro dos líderes foram condenados à forca. Em sua homenagem, a
Segunda Internacional declarou o Primeiro de Maio como o Dia Internacional do
Trabalho.
Imagens:
Google.
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