A mão-de-obra escrava
O comércio de escravos africanos iniciou-se em 1441, com os
negros capturados pelo português Antão Gonçalves na região do Senegal. A
princípio, restringia-se a Portugal, onde os escravos eram basicamente
utilizados em serviços domésticos. Logo, porém, deslocou-se para as Ilhas do
Atlântico ( Açores e Cabo Verde ), atendendo às exigências da nascente lavoura
açucareira, implantada pelo infante d. Henrique.
O Brasil teria recebido os primeiros africanos por
volta de 1536. Pouco depois, contudo, o
tráfico foi interrompido, apesar das inúmeras cartas dos colonos
solicitando “negros da Guiné“ para os
canaviais.
A escravização do índio
O trabalho pesado nas plantações não constava do programa de
vida dos colonos que vinham para o Brasil mais na condição de empresários que
de lavradores. A mão-de-obra escrava era, para eles, a solução ideal porque,
sendo relativamente barata e abundante, permitia multiplicar os lucros advindos
da comercialização dos produtos tropicais.
No inicio da colonização, recorreu-se à escravização do
indígena, antes empregado como trabalhador livre, na extração do pau-brasil.
Esta alternativa mostrou-se tão vantajosa que, ainda no século XVI, uma das
principais atividades econômicas de São Vicente era a captura do índio pelos
bandeirantes de São Paulo, e depois vendido aos grandes fazendeiros.
Durante toda a primeira metade do Século XVII as reservas de
mão-de-obra indígena organizadas nas reduções jesuíticas da bacia do Rio Paraná
foram sistematicamente pilhadas pelos mesmos bandeirantes paulistas. O índio
era então o “negro da terra”, em cuja defesa se levantaram não só os jesuítas,
mas também a própria Igreja e muitas pessoas esclarecidas e influentes da
Europa.
Diante dos protestos, a Coroa Portuguesa vacilou, assumindo
sucessivamente posições contrárias, até que se fixou na justificativa da “guerra justa”. Tratava-se
do combate ao indígena em legítima defesa do colono - resultando em grande em
grande número de prisioneiros que acabavam “justamente” escravizados.
A mão-de-obra africana
Se, apesar de suas limitações, a escravização do índio fazia
a fortuna de muitos colonos, não chegava, porém, a constituir uma empresa tão
lucrativa, para a Metrópole, quanto o tráfico negreiro.
Assim, paralelamente à “caça ao índio“, organizou-se uma
corrente de fornecimento de africanos para as zonas canavieiras. Os preços eram
altos, mas a rentabilidade da agroindústria açucareira e a complementaridade
entre o tráfico negreiro e as plantações compensavam o investimento.
Indispensável à grande lavoura de exportação, a mão-de-obra negra rapidamente
se difundiu por toda a Colônia, concentrando-se nas regiões de maior dinamismo
econômico (Nordeste açucareiro e, depois, a zona de mineração). No fim do
período colonial, um terço da população
brasileira consistia em cativos africanos ou de origem africana.
O tráfico negreiro
Primeiros traficantes de escravos da época moderna, em 1479
os portugueses tiveram reconhecida pela Espanha (Tratado de Alcáçovas) sua
exclusividade de acesso às terras africanas. Nessa época, a captura de negros
ainda era feita de modo desordenado, limitando-se ao litoral. Quando os
primeiros escravos africanos chegaram ao Brasil, no início do Século XVI, o
tráfico negreiro começava a organizar-se, mobilizando chefes tribais que
vendiam aos portugueses seus prisioneiros de guerra. Simultaneamente surgiram
os grandes entrepostos de vendas de escravos, para onde afluíam os cativos do
interior.
Os Escravos destinavam-se basicamente às áreas mineiras e às
grandes plantações das colônias americanas - espanholas ou portuguesas. Para o
Brasil, o comércio era livre, sujeito apenas a um tributo variável, cobrado
sobre cada escravo exportado. Na América Espanhola vigorava o asiento, ou seja,
a exclusividade concedida pela Espanha aos portugueses para o transporte e a
venda de negros em suas possessões territoriais.
O tráfico para o Brasil
O tráfico organizado de escravos para o Brasil começou a
partir da implantação do Governo-Geral. Em 1559, um alvará real dirigido ao
capitão da ilha de S. Tomé determinava que, mediante certidão do
governador-geral do Brasil, cada senhor de engenho podia importar até 120
escravos, pagando apenas 1/3 dos direitos de importação. A partir desta época,
o fluxo foi aumentando até chegar a 15
mil no final do século.
O grande impulso alcançado pelo comércio negreiro data do
século XVIII, com o ingresso de mais de 500 mil africanos no Brasil. O açúcar
mobilizou cerca de 70% desse contingente; os 30% restantes foram encaminhados
às plantações de tabaco e a diversas outras atividades, inclusive as
domésticas.
O dia-a-dia dos escravos
A força da aristocracia rural estava alicerçado na grande
“unidade produtora”, a qual, por sua vez, dependia da mão-de-obra escrava. A
importância do africano na agroindústria do açúcar resume-se bem na célebre
frase de Antonil:
“Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles
no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter
engenho...“
A crescente procura pelo açúcar brasileiro nos mercados
mundiais exigia mais e mais produção e um número sempre maior de escravos.
Assim, o tráfico negreiro intensificou-se a partir da primeira metade do século
XVII. Até 1630, a
maioria dos escravos destinava-se aos canaviais pernambucanos; a partir dessa
data, a Bahia passou a receber grande número de negros - muitos dos quais
provinham não da África, mas das capitanias vizinhas.
Sete anos de vida útil
Nos engenhos, os escravos eram obrigados a trabalhar de sol
a sol, calculando-se que sua jornada chegava as dezoito horas, estendendo-se
noite adentro na época da colheita.
A super-exploração força humana exprimia-se no elevado
índice de mortalidade negra; na verdade, o senhor do engenho e seus feitores sabiam
que a média de “vida útil” de um escravo era de sete anos; em vista disso,
tratavam de utilizá-lo ao máximo, antes de adquirir novos escravos para
substituí-los.
Terminada a longa jornada de trabalho, os escravos eram
recolhidos na senzala, onde ficavam trancados até o amanhecer. Nos engenhos
maiores, chegavam a várias centenas os negros que se amontoavam à noite no chão
da senzala, para dormir.
A senzala, um barracão próximo à casa-grande, era a moradia
dos negros. À noite sofriam os mais variados maus-tratos. A humilhação e o
castigo corporal tinham por objetivo destruir a identidade e a personalidade
dos negros, facilitando assim a sua submissão e o aproveitamento máximo da sua
força de trabalho
O açoite pretendia marcar no subconsciente do negro que ele
era vadio, traiçoeiro, maldoso e que, de qualquer forma, merecia o castigo. Os
pesados castigos corporais eram aplicados aos negros com os seguintes
instrumentos mais comuns:
· o bacalhau, ou chicote de couro cru;
· o vira-mundo, pequena peça de ferro que
prendia os pés e as mãos do escravo; e
· a gargalheira, colar de ferro com
vários ganchos que facilitavam a captura de fujões.
As faltas consideradas graves recebiam castigos
infinitamente maiores, como a quebra dos dentes a martelo, a amputação dos seios,
a castração e até mesmo a morte.
Isso tudo era enfatizado pelas diferenças raciais, em que a
cor da pelo estabelecia uma rígida hierarquia na sociedade: o branco era o
superior; logo abaixo vinha o moreno, que era melhor que o mulato; em último
lugar estava o negro, que era inferior a todos.
“Pau, pão e pano”
No período Colonial, costumava-se dizer que, para manter os
escravos na mais perfeita ordem, os senhores bem sucedidos precisavam tratá-los
com os três Ps, isto é, a “pau, pão e pano”.
· O “Pau” resumia os castigos
distribuídos aos negros.
· O “pão” era fornecido pelo senhor ou
produzido pelos próprios escravos durante um dia por semana.
· O “pano”, referia-se à precária
vestimenta, feita no engenho e resumida ao mínimo indispensável, na verdade, freqüentemente
seminus.
Além de distribuir punições, alimento e roupas, o senhor do
engenho devia zelar pela capacidade produtiva do escravo, impedindo, por
exemplo, que ele se embriagasse. Alguns proprietários permitiam casamentos
entre os negros; outros apenas a coabitação e utilizavam os mais capazes
fisicamente como reprodutores, para aumentar o número e a “qualidade” de seus
escravos.
A resistência e os quilombos
Os negros não aceitaram passivamente a escravidão. Por isso, os senhores se preocupavam em resgatar os fugitivos, castigar os rebeldes e manter funcionários livres para conter os escravos. Havia muitas formas de rebelião: fugas, suicídio ou envenenamento do senhor. Em casos mais radicais, um escravo enraivecido podia até matar o feitor ou o seu proprietário.
Os quilombos surgiram no século XVII. Neles, os negros
cuidavam de suas próprias lavouras e até comercializavam produtos nas cidades
mais próximas. O tamanho dessas comunidades variava. Indo de algumas centenas
de homens e mulheres até cerca de 30 mil pessoas.
O quilombo dos Palmares foi um dos mais importantes redutos de escravos que arriscaram sua vida, fugindo do inferno em que viviam. Localizado no sul da Capitania de Pernambuco, hoje Estado de Alagoas, surgiu no final do século XVI, após uma revolta de escravos em um engenho da região, tendo em Zumbi (Foto acima) o último grande e mais famoso líder. Foi destruído em 1694, após várias tentativas de bandeirantes paulistas liderados por Domingos Jorge Velho (Foto à direita).
Outros quilombos importantes foram os de Trombetas no Pará,
e o do Buraco do Tatu, nas montanhas ao redor de Salvador-BA.
Imagem:
Google
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