terça-feira, 14 de outubro de 2014

OS CERCAMENTOS


Chamaram-se “Cercamentos” ou enclosures a ocupação e o cercamento das terras comunais, o que implicou na suspensão dos contratos de arrendamento e na expulsão dos Camponeses aí instalados. Essas regiões foram utilizadas a princípio para ampliar as áreas de cultivo e de pastagem para carneiros. Com a expansão do comércio dos tecidos de lã, a necessidade crescente de matérias-primas para as industrias fez aumentar os rebanhos de ovelhas, diminuindo gradativamente as áreas dedicadas à agricultura. Esse movimento, que se iniciara no século XIII, desenvolveu-se principalmente até o século XVI Foi retomado mais tarde, em meados do século XVIII até inícios do século XIX, quando, com o apoio do governo , todos os campos abertos foram eliminados da Inglaterra.

Em fins do século XVIII e, sobretudo, no século XVIII, ocorreram na agricultura européia transformações profundas que podem ser consideradas, em parte, efeitos da Revolução comercial. A alta dos preços e o aumento da população urbana, cansados por alterações no sistema comercial, tornaram a agricultura negócio cada vez mais rendoso, com o que foram estimulados progressos no setor. Ademais, um dos efeitos da expansão ultramarina foi tornar comuns na Europa importantes culturas novas, como o milho e a batata. Provavelmente, porém , o mais importante efeito da Revolução Comercial sobre  história agrícola foi o triunfo da mentalidade capitalista. Proprietários que até então permitiram aos camponeses lavrar suas terras de maneira ineficiente passaram a seguir o exemplo dos industriais, buscando um máximo de eficiência e de lucros. Na medida em que esses proprietários estivessem dispostos a se mostrarem implacáveis, podiam adotar muitas mudanças revolucionárias.

Os países que encabeçaram o progresso na agricultura foram Holanda e Inglaterra, sem dúvida porque já haviam avançado bastante na Revolução Comercial. Como a Inglaterra teve condições de ultrapassar rapidamente a Holanda, devido às suas maiores dimensões e à maior disponibilidade de recursos naturais, podemos limitar o estudo ao caso inglês. Na Idade Média grupos de camponeses cultivavam coletivamente faixas de terras longas e estreitas, sem cercas. Dessas faixas, um terço ficava em descanso a cada ano, a fim de recuperar a fertilidade. Outras terras limítrofes eram ocupadas por pastos e campinas, para o uso de rebanhos de propriedade coletiva. Geralmente, a verdadeira propriedade de todas essas terras era mal definida ou elas eram subdivididas quase aleatoriamente. Em geral, contudo, havia um importante senhor de terras em cada área, capaz de afirmar ter a propriedade de uma grande proporção das terras, muito embora fossem lavradas para ele, por camponeses. O mesmo indivíduo podia também reivindicar a propriedade legal das pastagens e campinas. Na Inglaterra, a maioria desses proprietários decidiu “fechar” suas terras, a fim de torná-las mais lucrativas.

Os primeiros “cercamentos” na Inglaterra tiveram lugar nos séculos XV e XVI e acarretaram a transformação das terras em pastos cercados para criação de carneiros e ovelhas. Devido aos grandes lucros que poderiam ser auferidos da lã, alguns proprietários resolveram converter pastos comuns, que até então haviam sustentado os animais dos camponeses, em terras de seu uso pessoal, para a criação de ovinos. Às vezes conseguiam também converter campos de cereais em pastos de ovinos, expulsando dali os camponeses cujo direito à terra não estivesse bem caracterizado. Isso causou terríveis infortúnios aos camponeses atingidos. Como escreveu Thomas More, em Utopia, livro de 1516: “... os cordeiros, que eram antes tão dóceis e comiam tão pouco, estão-se tornando agora tão ávidos e selvagens que devoram os próprios homens (...) pois não deixam terra alguma livre para o arado”. Não foi bem assim, pois na verdade, não mais que aproximadamente 3% das terras aráveis tinham sido fechadas de 1525 e parte delas não se destinava ao pastoreio de ovinos.

Conseqüências dos Cercamentos


O movimento dos “Cercamentos”, como vimos no início não se limitou única e exclusivamente à Inglaterra, mas estendeu-se para a Holanda e também para todos os países da Europa, especialmente naqueles em que o Feudalismo se fez presente na Idade Média, sendo, portanto, um movimento mais amplo do que se possa imaginar.

O processo dos Cercamentos” beneficiou duplamente a indústria em expansão:

1)    Garantiu farta matéria prima (lã) para as tecelagens, com a ampliação das áreas de pastagens e,
2)    Assegurou um grande e barato contingente de mão-de-obra para as manufaturas devido a expulsão das terras de milhares de camponeses e pequenos proprietários, que migraram em massa para as cidades.

Mas foi o no lado humano que as conseqüências dos “Cercamentos” foram sentidas muito mais fortemente, pois os camponeses expulsos de suas terras foram parar nas cidades, como servindo como fonte de mão-de-obra barata, ficando a disposição dos empresários, sujeitando-se aos baixos salários e as condições subumanas de vida.

Com os “Cercamentos” a humanidade assistiu o inicio da ação da doutrina capitalista sobre aqueles considerados “incompetentes”, isto é, aqueles fragilizados economicamente e incapazes de gerar riquezas e lucros para os “empresários”, ditos os “melhores preparados” e, portanto, merecedores da felicidade material



Imagem: Google.

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