Chamaram-se
“Cercamentos” ou enclosures a
ocupação e o cercamento das terras comunais, o que implicou na suspensão dos
contratos de arrendamento e na expulsão dos Camponeses aí instalados. Essas
regiões foram utilizadas a princípio para ampliar as áreas de cultivo e de
pastagem para carneiros. Com a expansão do comércio dos tecidos de lã, a
necessidade crescente de matérias-primas para as industrias fez aumentar os
rebanhos de ovelhas, diminuindo gradativamente as áreas dedicadas à agricultura.
Esse movimento, que se iniciara no século XIII, desenvolveu-se principalmente
até o século XVI Foi retomado mais tarde, em meados do século XVIII até inícios
do século XIX, quando, com o apoio do governo , todos os campos abertos foram
eliminados da Inglaterra.
Em fins do século
XVIII e, sobretudo, no século XVIII, ocorreram na agricultura européia
transformações profundas que podem ser consideradas, em parte, efeitos da
Revolução comercial. A alta dos preços e o aumento da população urbana,
cansados por alterações no sistema comercial, tornaram a agricultura negócio
cada vez mais rendoso, com o que foram estimulados progressos no setor.
Ademais, um dos efeitos da expansão ultramarina foi tornar comuns na Europa
importantes culturas novas, como o milho e a batata. Provavelmente, porém , o
mais importante efeito da Revolução Comercial sobre história agrícola foi o triunfo da
mentalidade capitalista. Proprietários que até então permitiram aos camponeses
lavrar suas terras de maneira ineficiente passaram a seguir o exemplo dos
industriais, buscando um máximo de eficiência e de lucros. Na medida em que
esses proprietários estivessem dispostos a se mostrarem implacáveis, podiam
adotar muitas mudanças revolucionárias.
Os países que
encabeçaram o progresso na agricultura foram Holanda e Inglaterra, sem dúvida
porque já haviam avançado bastante na Revolução Comercial. Como a Inglaterra
teve condições de ultrapassar rapidamente a Holanda, devido às suas maiores
dimensões e à maior disponibilidade de recursos naturais, podemos limitar o
estudo ao caso inglês. Na Idade Média grupos de camponeses cultivavam
coletivamente faixas de terras longas e estreitas, sem cercas. Dessas faixas,
um terço ficava em descanso a cada ano, a fim de recuperar a fertilidade.
Outras terras limítrofes eram ocupadas por pastos e campinas, para o uso de
rebanhos de propriedade coletiva. Geralmente, a verdadeira propriedade de todas
essas terras era mal definida ou elas eram subdivididas quase aleatoriamente.
Em geral, contudo, havia um importante senhor de terras em cada área, capaz de
afirmar ter a propriedade de uma grande proporção das terras, muito embora
fossem lavradas para ele, por camponeses. O mesmo indivíduo podia também
reivindicar a propriedade legal das pastagens e campinas. Na Inglaterra, a
maioria desses proprietários decidiu “fechar” suas terras, a fim de torná-las
mais lucrativas.
Os primeiros
“cercamentos” na Inglaterra tiveram lugar nos séculos XV e XVI e acarretaram a
transformação das terras em pastos cercados para criação de carneiros e
ovelhas. Devido aos grandes lucros que poderiam ser auferidos da lã, alguns
proprietários resolveram converter pastos comuns, que até então haviam
sustentado os animais dos camponeses, em terras de seu uso pessoal, para a
criação de ovinos. Às vezes conseguiam também converter campos de cereais em
pastos de ovinos, expulsando dali os camponeses cujo direito à terra não
estivesse bem caracterizado. Isso causou terríveis infortúnios aos camponeses
atingidos. Como escreveu Thomas More,
em Utopia, livro de 1516: “... os
cordeiros, que eram antes tão dóceis e comiam tão pouco, estão-se tornando
agora tão ávidos e selvagens que devoram os próprios homens (...) pois não
deixam terra alguma livre para o arado”. Não foi bem assim, pois na
verdade, não mais que aproximadamente 3% das terras aráveis tinham sido
fechadas de 1525 e parte delas não se destinava ao pastoreio de ovinos.
Conseqüências dos Cercamentos
O movimento dos
“Cercamentos”, como vimos no início não se limitou única e exclusivamente à Inglaterra,
mas estendeu-se para a Holanda e também para todos os países da Europa,
especialmente naqueles em que o Feudalismo se fez presente na Idade Média,
sendo, portanto, um movimento mais amplo do que se possa imaginar.
O processo dos
Cercamentos” beneficiou duplamente a indústria em expansão:
1) Garantiu farta matéria prima (lã) para as tecelagens, com a ampliação
das áreas de pastagens e,
2) Assegurou um grande e barato contingente de mão-de-obra para as
manufaturas devido a expulsão das terras de milhares de camponeses e pequenos
proprietários, que migraram em massa para as cidades.
Mas foi o no lado
humano que as conseqüências dos “Cercamentos” foram sentidas muito mais
fortemente, pois os camponeses expulsos de suas terras foram parar nas cidades,
como servindo como fonte de mão-de-obra barata, ficando a disposição dos
empresários, sujeitando-se aos baixos salários e as condições subumanas de
vida.
Com os “Cercamentos” a
humanidade assistiu o inicio da ação da doutrina capitalista sobre aqueles
considerados “incompetentes”, isto é, aqueles fragilizados economicamente e
incapazes de gerar riquezas e lucros para os “empresários”, ditos os “melhores
preparados” e, portanto, merecedores da felicidade material
Imagem: Google.
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