sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A COLETIVIZAÇÃO DA UNIÃO SOVIÉTICA


Uma vez instalada a revolução que implantou o socialismo na Rússia (1917), a partir do ano seguinte, seus líderes, os bolcheviques, estabeleceram medidas radicais, chamadas comunismo de guerra, tais como:
·O confisco sumário das grandes propriedades fundiárias, sem indenização;
· A regulamentação do consumo e da produção;
·A expropriação das grandes industrias e da maioria das pequenas empresas;
· A obrigatoriedade de os camponeses entregarem ao governo a colheita de cereais, com exceção da parte destinada a consumo próprio.

Tais medidas produziram o colapso da economia russa, que regrediu a níveis inferiores aos de antes da Primeira Guerra. Por outro lado, a ocupação desordenada das fábricas, o trabalho obrigatório, a especulação com os gêneros de primeira necessidade feita pelos kulacks (camponeses ricos) e  resistência dos camponeses a entregar parte de suas colheitas ao Estado, numa época de crise e muita fome, geraram greves e insurreições, como a dos marinheiros da base naval de Kronstadt, em março de 1921.

Na tentativa de resolver esses problemas, tão logo o Exército Vermelho pôs fim à guerra civil, o governo de Lênin criou, em fevereiro de 1921, uma comissão estatal de planejamento econômico (Gosplan), para coordenar a reorganização da economia. Assim, em março desse mesmo ano, foi adotada a Nova Política Econômica (NEP). Com ela abria-se espaço para alguns empreendimentos de iniciativa particular que, em colaboração com empresas estatais, deveriam promover o reerguimento econômico do país.

Entre as medidas que compunham a NEP, destacavam-se as seguintes:
· O governo procurou atrair capitais estrangeiros, que foram canalizados para o desenvolvimento da industria de base;
·  A agricultura e o comercio foram organizadas através de cooperativas;
·  Foi restabelecida a liberdade de comércio interno;
·  Foram autorizadas as diferenças salariais;

Essas medidas permitiram a Rússia retomar rapidamente o crescimento econômico; atingindo altos níveis de produtividade, até serem suplantadas pelos planos qüinqüenais adotados posteriormente, durante o governo de Stálin.

Politicamente, fundou-se em dezembro de 1922 a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), composta pela Rússia, pela Transcaucásia, pela Ucrânia e pela Rússia Branca, com as adesões posteriores do Usbequistão, do Turquemenistão e do Tadiquistão. Em Julho de 1923 foi promulgada a nova Constituição, ratificada seis meses depois pelo Congresso, que definia os poderes da união, estabelecendo como órgão mais importante  o Soviet Supremo, composto por delegados de todas as Repúblicas, encarregados da escolha do Conselho Executivo.

O governo de Stálin e os planos quinquenais

Com a morte de Lênin em 1924, o poder passou a ser disputado por dois dos principais líderes da revolução: Stálin, o Secretário Geral do Partido Comunista, e Tróstski, o Comissário do Povo para a Guerra.

Mais que uma disputa pessoal, esta era uma luta de duas facções opostas:
· A stalinista, que pretendia limitar a revolução socialista apenas à União Soviética, a fim de poder consolidá-la,
· A trotskista, que defendia a propagação da revolução socialista pelo mundo.

Aproveitando-se do fato de Tróstski estar doente, e assim momentaneamente incapacitado para lutar por seus ideais, Stálin destituiu-o do cargo de Comissário em 1925, isolando-o cada vez mais, até conseguir expulsá-lo do partido em 1927 e da união Soviética em 1929. Trótski refugiou-se no México, onde foi assassinado em 1940.

Controlando a burocracia do partido e do Estado a seu favor, Stálin foi aos poucos afastando todos os seus opositores até se tornar ditador absoluto em 1929. Durante seu governo foi realizada uma planificação geral da economia, através dos planos quinquenais, que objetivavam a criação de uma industria pesada e a coletivização e mecanização da agricultura. A reforma agrária afetou três quintos das áreas de exploração agrícola, fez desaparecer os kulacs e criou os kolkhozes (cooperativas coletivas, cujos membros são proprietários da produção, mas não da terra) e os sovkhozes (granjas socializadas, cuja produção, maquinaria e terras pertencem ao Estado).

Isolada do resto do continente, a primeira nação socialista do mundo teve de se voltar para dentro de seus vastos territórios à procura de recursos minerais, encontrados nas jazidas de carvão e ferro dos Urais, Sibéria e Ásia Central e na exploração do petróleo. Para conseguir sua autosuficiência industrial, a produção de bens de consumo foi restringida e houve uma grande ampliação da rede de energia elétrica, com a construção de várias hidrelétricas.

Esses planos, acompanhados por uma política cultural de erradicação do analfabetismo e de implantação do ensino técnico, permitiram que a União Soviética se recuperasse do atraso técnico do Império Russo e conseguisse rapidamente o mesmo nível de desenvolvimento industrial dos países mais avançados.

Em 1936, Stálin outorgou uma nova Constituição, seguida por uma intensa onda de expurgos que afastou do poder os remanescentes revolucionários de 1917 e confirmou seu poder totalitário. Iniciou-se, então, um período de terror permanente, com expurgos maciços e repetidos, que atingiram um grande número de membros do partido, da administração e do exército. Milhares de pessoas foram mortas ou enviadas a campos de trabalho forçado. Com a extrema centralização do poder e o aumento do controle burocrático e policialesco sobre sobre a população soviética, Stálin instaurou o culto de sua personalidade, transformando a ditadura do proletariado em ditadura pessoal.

A Coletivização


Voltando à questão agrícola, o primeiro plano qüinqüenal incluía um programa de coletivização agrícola que visava a consolidar as propriedades rurais em unidades maiores, de milhares de hectares, dentro do regime de propriedade comunal dos camponeses. Só com esse tipo de reorganização, declaravam os líderes russos, seria possível introduzir os novos e dispendiosos processos de mecanização, para elevar a produção agrícola do país. Era natural que o argumento não conseguisse obter o apoio dos fazendeiros mais prósperos (Kulacks),  que tinham recebido permissão de conservar a propriedade de suas terras, apesar da revolução. Essa oposição provocou um novo período de Terror, tornado ainda mais impiedoso, por uma fome ocorrida no sudeste da Rússia em 1932. Os kulacks foram liquidados, quer pela morte, quer pelo transporte para distantes campos de trabalhos forçados. Ou seja, a burguesia rural foi eliminada, a fim de ser substituída por um proletariado rural. Em 1939 a coletivização era fato consumado. Para um vasto número de russos, ela representou uma revolução muito mais imediata que a de 1917. Cerca de vinte milhões de pessoas foram retiradas das terras, que, tão logo reorganizadas em unidades maiores e mecanizada a produção, exigiam menos trabalhadores. Foram mandados para as cidades, onde a maioria passou a trabalhar em fábricas. A produção agrícola não aumentou durante os primeiros anos da coletivização. Não obstante, o plano foi benéfico para o governo. Através do controle da produção, a burocracia central pode regular a distribuição dos produtos agrícolas, destinando-os à exportação, onde necessário, a fim de pagar a importação de máquinas industriais, de extrema necessidade.

Concluindo

A coletivização da economia e como conseqüência a coletivização da terra teria como objetivo fundamental a garantia da igualdade social do povo russo. Como pudemos observar esse objetivo não foi atingido. As razões são várias:

1) A própria metodologia utilizada pelos dirigentes mostrou-se incapaz, uma vez que com o uso da força, um contingente muito grande pessoas, milhares ou até milhões, que seriam as primeiras beneficiárias, ficaram sem as suas terras e, portanto, fora do processo.

2) Não houve uma conscientização popular nesse sentido, decorrendo-se daí que não houve uma adesão espontânea ao processo, perdendo-se com isso a sua qualidade quanto ideia, porque houve necessidade do uso da força: expropriações, expulsões, prisões e envios a campos de trabalhos forçados.

3) A própria evolução histórica provou que o socialismo não se consolidou na prática. A economia soviética teve altos e baixos, alternando-se períodos de crescimento com períodos de crise, e muito menos atingiu seu objetivo geral e final que era de garantir ao povo a igualdade social.



Imagem: Google.


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