terça-feira, 27 de novembro de 2012

UM NEGRO NA PRESIDENCIA DA SUPREMA CORTE DE JUSTIÇA DO PAÍS – CONSIDERAÇÕES.


 As manchetes da imprensa estão estouraram em todo o país, reforçando a informação de que um negro está assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal, a mais alta corte de justiça do país.

Pois é, está todo mundo extasiado com esse feito do magistrado Joaquim Barbosa, que é negro e vem ganhando notoriedade no julgamento do processo do  esquema do mensalão, por sua rigidez e polêmicas, principalmente com Ricardo Levandowysk. Este como revisor do processo e aquele como relator.

Nada a acrescentar a essas notícias.

O que me faz pensar é a respeito dessa insistência em reforçar a condição de Joaquim Barbosa de negro. Numa época em que muito se fala sobre superação dos preconceitos e da eliminação da discriminação racial, parece que há uma espécie de estupefação pelo fato de um negro ser o presidente da mais importante corte de justiça do país. O que é que há? Joaquim Barbosa é negro, sim, mas um ser humano que seguiu todas as trilhas da vida e chegou aonde chegou por seus próprios méritos! Não foi nenhuma concessão da sociedade “branca”.

Sabem o que está por trás de toda essa falação? O preconceito que ainda está arraigado principalmente nos donos da imprensa, isto é aqueles que de fato comandam as empresas donas das grandes mídias do país. Eles não aparecem nem sabemos quem são, mas dão as cartas. Eles fazem eco ao preconceito que ainda está disseminado no seio da sociedade “branca”.

Uma sociedade preconceituosa tem uma postura interessante que escapa à percepção de muitos. É mais ou menos assim: se alguém da favela se destaca em algo há uma exaltação desse feito. Ok. Porém, nas entrelinhas dessa exaltação está implícita outra mensagem destinada aos demais habitantes das favelas, mais ou menos assim: “Olhem, ele conseguiu e vocês não conseguem porque são fracos, preguiçosos, desinteressados e assim por diante. Tem mais é que ralar mesmo!

E assim é o procedimento com as demais parcelas da sociedade que estão nas camadas inferiores da pirâmide social... Ou excluídas... Quando um menino da favela se torna um exímio violinista ele vai imediatamente para os programas televisivos de grande audiência. Transforma-se em exotismo. Assim acontece em todas as áreas. Quais as conseqüências de tudo isso?

As conseqüências resultam na manutenção do status quo da sociedade. A educação permanece como está. Nada muda, apesar da grande falação que há a respeito. É na sala de aula que deve acontecer o reflexo dessa preocupação. E nada! O pensamento é mais ou menos assim: “... E prá que melhorar a escola dessa gente, pois eles nunca sairão desse circulo de pobreza? E se saírem, vão dar trabalho pra gente, melhorar sua visão política, vão concorrer com a gente pelos mandatos políticos, pelos cargos públicos. Vão nos questionar, vão participar de revoltas, vão criticar os programas de TV, vão deixar de ser consumistas... Não vão mais ser iludidos facilmente...”

O sistema capitalista privilegia o TER. Quem não TEM não “É”, quem não tem poder de consumo não “EXISTE”. E as discriminações vão acontecendo, em cascata para toda a sociedade.

Recordo-me do verso de um compositor mineiro contemporâneo, José Paulo Medeiros: “... Se você encontrar os ossos de dois bois, por favor, me diga qual a cor dos dois?...”

A discriminação racial e o preconceito não se combatem apenas com leis. As leis são importantes, não resta dúvida. Porém, a discriminação e o devem ser combatidas culturalmente, num processo de mudança, educacional, ético, dentro para fora de cada pessoa. Eu não sou José, o branco, nem aquele é o amarelo ou o outro o negro ou índio.  As pessoas devem ser chamadas pelo nome. Eu sou o José... E isso é científico, pois o próprio Projeto Genoma até agora identificou pouquíssimos genes responsáveis pela cor da pele. A quantidade é insignificante. Assim a essência do ser humano não é a cor de sua pele, nem a sua origem racial, étnica, econômica, religiosa ou política. É outra coisa, algo que pode ser definido de acordo com a visão filosófica de cada um. Eu diria ser a alma, o espírito, o seu patrimônio cultural, a sua história de vida.

O mais importante na vida e na sociedade é SER: ser GENTE e respeitado como tal.

Parabéns ao ser humano e cidadão Joaquim Barbosa, mui digno presidente do Suprem Tribunal Federal!

 

 

 

 

 

 

 

 

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