Pois é, está todo mundo extasiado com esse feito do
magistrado Joaquim Barbosa, que é negro e vem ganhando notoriedade no julgamento
do processo do esquema do mensalão, por
sua rigidez e polêmicas, principalmente com Ricardo Levandowysk. Este como
revisor do processo e aquele como relator.
Nada a acrescentar a essas notícias.
O que me faz pensar é a respeito dessa insistência em
reforçar a condição de Joaquim Barbosa de negro. Numa época em que muito se
fala sobre superação dos preconceitos e da eliminação da discriminação racial,
parece que há uma espécie de estupefação pelo fato de um negro ser o presidente
da mais importante corte de justiça do país. O que é que há? Joaquim Barbosa é
negro, sim, mas um ser humano que seguiu todas as trilhas da vida e chegou
aonde chegou por seus próprios méritos! Não foi nenhuma concessão da sociedade
“branca”.
Sabem o que está por trás de toda essa falação? O
preconceito que ainda está arraigado principalmente nos donos da imprensa, isto
é aqueles que de fato comandam as empresas donas das grandes mídias do país.
Eles não aparecem nem sabemos quem são, mas dão as cartas. Eles fazem eco ao
preconceito que ainda está disseminado no seio da sociedade “branca”.
Uma sociedade preconceituosa tem uma postura interessante
que escapa à percepção de muitos. É mais ou menos assim: se alguém da favela se
destaca em algo há uma exaltação desse feito. Ok. Porém, nas entrelinhas dessa
exaltação está implícita outra mensagem destinada aos demais habitantes das
favelas, mais ou menos assim: “Olhem, ele
conseguiu e vocês não conseguem porque são fracos, preguiçosos, desinteressados
e assim por diante. Tem mais é que ralar mesmo!
E assim é o procedimento com as demais parcelas da sociedade
que estão nas camadas inferiores da pirâmide social... Ou excluídas... Quando
um menino da favela se torna um exímio violinista ele vai imediatamente para os
programas televisivos de grande audiência. Transforma-se em exotismo. Assim
acontece em todas as áreas. Quais as conseqüências de tudo isso?
As conseqüências resultam na manutenção do status quo da
sociedade. A educação permanece como está. Nada muda, apesar da grande falação
que há a respeito. É na sala de aula que deve acontecer o reflexo dessa
preocupação. E nada! O pensamento é mais ou menos assim: “... E prá que melhorar a escola dessa gente, pois eles nunca sairão
desse circulo de pobreza? E se saírem, vão dar trabalho pra gente, melhorar sua
visão política, vão concorrer com a gente pelos mandatos políticos, pelos
cargos públicos. Vão nos questionar, vão participar de revoltas, vão criticar
os programas de TV, vão deixar de ser consumistas... Não vão mais ser iludidos
facilmente...”
O sistema capitalista privilegia o TER. Quem não TEM não “É”,
quem não tem poder de consumo não “EXISTE”. E as discriminações vão
acontecendo, em cascata para toda a sociedade.
Recordo-me do verso de um compositor mineiro contemporâneo,
José Paulo Medeiros: “... Se você encontrar
os ossos de dois bois, por favor, me diga qual a cor dos dois?...”
A discriminação racial e o preconceito não se combatem
apenas com leis. As leis são importantes, não resta dúvida. Porém, a
discriminação e o devem ser combatidas culturalmente, num processo de mudança,
educacional, ético, dentro para fora de cada pessoa. Eu não sou José, o branco,
nem aquele é o amarelo ou o outro o negro ou índio. As pessoas devem ser chamadas pelo nome. Eu
sou o José... E isso é científico, pois o próprio Projeto Genoma até agora
identificou pouquíssimos genes responsáveis pela cor da pele. A quantidade é
insignificante. Assim a essência do ser humano não é a cor de sua pele, nem a
sua origem racial, étnica, econômica, religiosa ou política. É outra coisa,
algo que pode ser definido de acordo com a visão filosófica de cada um. Eu
diria ser a alma, o espírito, o seu patrimônio cultural, a sua história de
vida.
O mais importante na vida e na sociedade é SER: ser GENTE e
respeitado como tal.
Parabéns ao ser humano e cidadão Joaquim Barbosa, mui digno
presidente do Suprem Tribunal Federal!
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