quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O OLHAR DA SANTINHA E A GRANDE REPORTAGEM - CRÔNICA


A aurora ainda lembrava a chuva intermitente do dia anterior e parte da noite. A frente fria, em dissipação, trazia em sua retaguarda muito ar frio.

O repórter despertou de uma noite aconchegante, povoada de sonhos e preocupações quanto ao futuro. Ao sentir o sol tímido penetrando pelas frestas da janela, levantou-se depressa, fez o lanche matinal, arrumou-se e, antes de sair, olhou fixamente para a santinha de sua devoção, emoldurada na parede da sala. Nada disse, apenas imaginou a possibilidade de realizar nesse dia uma grande reportagem que o consagrasse definitivamente na equipe do jornal.

A santinha olhava-o candidamente, como a lhe dizer: “Vai filho, vai, realiza teus sonhos...”

Já na rua, a brisa gelava-lhe o rosto. Passou a caminhar pela cidade que iniciava a faina diária, em direção da redação do jornal. Perdido em pensamentos, na praça principal, quase tropeçou num menino que, sentado na areia ainda úmida, cabisbaixo, fazia sulcos no chão, com os dedos.

- Que e isso, garoto? O que faz aqui, neste frio? Perguntou.

- Nada, não. Estou só esperando Deus...

- Como? Esperando Deus?

- É, estou esperando Deus. Minha mãe morreu esta semana, mas antes me disse para não me preocupar, porque Deus viria e cuidaria de mim...

Nesse instante, um homem aproximou-se e dizendo que procurava o menino há algum tempo, tomou-lhe pela mão e o levou.

O sol já quente, os pardais ativos, o buzinaço, o vai-e-vem anônimo, faziam a rotina de mais um dia. Ele, o repórter, ali estático, observava o homem e o menino perderem-se pelos labirintos da cidade, pelos meandros da vida.

O olhar da santinha...

O Deus que veio...

Os meandros da vida...

Assim nasceu a sua grande reportagem!

Um comentário: