Queimado hoje é um distrito da cidade de
Serra, região metropolitana de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo. No
Século XIX era uma freguesia vinculada diretamente à capital. Seu nome Queimado
veio do fato de ser uma região quente, suscetível a muitas queimadas em sua
vegetação.
O
estopim da insurreição, cujo termo é impróprio para descrever esse movimento,
foi durante muito tempo considerada a “falsa” promessa que um missionário
capuchinho italiano, Frei Gregório José Maria de Bene, fez a um grupo de
escravos de que após a construção da Igreja da Freguesia dedicada a São José esses
escravos ganhariam suas cartas de alforria. Há, porém, registros de que não só
os escravos, mas toda a população se empenhou em sua construção. Assim, o fato
do Frei Gregório não cumprir sua promessa teria gerado a revolta dos Escravos.
As pesquisas levadas a efeito desde então indicam que a construção da Igreja e sua inauguração foi apenas um dos elementos da revolta, este sim o termo mais apropriado para o movimento.
As
pessoas se insurgem contra uma lei ou uma decisão, daí a insurreição. Outras
pessoas se revoltam contra uma situação social, estrutural. Foi o que
aconteceu. Esse movimento foi sim incentivado pelo Frei Gregório, que em seus
sermões pregava a igualdade entre as pessoas e que a escravidão era uma
aberração, especialmente aos olhos cristãos. Mas preparado ao longo do tempo.
Os principais líderes do movimento foram os escravos
- Elisiário Rangel - Chefe da revolta, era um escravo doméstico e
estudado, pois sabia ler e escrever
- Francisco de São José, o Chico Prego. Era outro
idealizador da revolta
- João, o Pequeno. Escravo de Rangel e Silva. Foi
outro dos líderes da Insurreição e por isto condenado à forca. Fugiu da
prisão com Elisiário não sendo mais encontrado.
- João da Viúva, assim chamado porque pertencia a
viúva Monteiro
- Carlos, irmão de Elisiário, escravo do padre
Dr. João Clímaco de Alvarenga Rangel. Foi preso e condenado a morte. Fugiu
da prisão, junto com Elisiário, não sendo mais recapturado
O
cabeça do movimento foi Elisiário que durante muito tempo preparou o movimento, distribuiu
as tarefas e orientou sobre o silêncio dos seus participantes.
A
polícia agiu rápido, o movimento foi contido, os revoltosos perseguidos, muitos
foram presos e outros tantos presos. Houve confrontos, pois quando os escravos
invadiam as fazendas não só conseguiam a liberação dos escravos como pegavam as
armas nelas existentes.
Os
revoltosos presos foram levados para a Cadeia Pública de Vitória, onde foram
maltratados, chegando mesmo a passar fome. Um deles morreu devido estar
gravemente ferido e por ter sido obrigado a caminhar desde Queimado.
Em 7 de
dezembro de 1849 cinco presos conseguiram escapar da prisão. O carcereiro de
repente “foi acometido de um sono
profundo, esquecendo a aberta a porta da cela dos negros”. Nada foi
encontrado que indicasse que a porta foi aberta à força, e a fuga foi atribuída
a um milagre de Nossa Senhora da Penha. Os escravos rezavam muito, sob as
ordens de Elisiário. Mais tarde comprovou-se que o carcereiro mesmo deixou a
porta aberta, por compaixão pelos sofrimentos dos presos.
Entre
os fugitivos estavam Elisiário e seu irmão Carlos. Elisiário, o maior líder do
movimento tornou-se uma lenda entre os negros do Espírito Santo, sendo chamado
de Zumbi da Serra, uma alusão ao grande herói Zumbi dos Palmares.
Dos que permaneceram presos dois foram condenados à
morte e outros castigados duramente, chegando a levar até mil chibatadas e
alguns morreram de tanto apanhar.
Há um registro de que uma mulher teria participado
do movimento. Esposa de um dos revoltosos foi citada como morta num dos
combates com a polícia.
João da Viúva foi condenado à forca “Consta que no Julgamento disse ser
inocente, e que o culpado era o Frei Gregório de Bene, que prometera liderar o
movimento de liberdade e no momento mais importante, escondera-se dos negros”.
Foi executado em Queimado às 6 horas da manhã, do dia 8 de janeiro de 1850,
três dias antes da execução de Chico Prego na sede da Vila da Serra.
Dramática foi a execução de Chico Prego.. Após
circular pela cidade ao som de tambor, com paradas estratégicas para leitura da
sentença, Chico Prego foi levado ao patíbulo. Este não foi suficiente para
causar-lhe à morte. O carrasco então cortou a corda e quando caiu ele terminou
o “serviço” esmagando-lhe a cabeça e as pernas a pauladas.
Quanto ao Frei Gregório, a História o absolveu,
pois se ele teve participação no movimento foi apenas de incentivo à luta. Não
liderou. Jamais indicou o caminho da violência. O que ele prometera era fazer
gestões junto às autoridades, especialmente junto à Imperatriz Tereza Cristina,
que era sua conterrânea para alforriar os escravos que o ajudaram na construção
da Igtreja. Mesmo assim foi expulso do Espírito Santo e continuou seu trabalho
missionário na Amazônia.
Este trabalho foi
elaborado com informações do texto QUEIMADO. A REVOLTA DOS NEGROS EM BUSCA
DA LIBERDADE, publicado no site
de Clério José Borges de
Sant’Ana, que é, também, autor do livro “HISTÓRIA DA SERRA”, uma pesquisa
histórica sobre o tema
Para mais informações há
a indicação do filme
QUEIMADO. A REVOLTA DOS
ESCRAVOS, dirigido pelo cineasta João Carlos Coutinho
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