terça-feira, 8 de janeiro de 2013

OS ESCRAVOS EM BUSCA DA LIBERDADE: A INSURRREIÇÃO DO QUEIMADO - 1849

Em 19 de Março de 1849 um grupo de escravos invade a Igreja de São José do Queimado, onde está sendo celebrada a missa de inauguração, exige do celebrante a prometida carta de alforria e sai invadindo as fazendas, agregando outros negros até atingir o número de 300 revoltosos. A população se amedronta e a polícia age rápido. Em 5 dias muitos revoltosos são presos, outros tantos são mortos indiscriminadamente, a insurreição termina, mas fica para a História um dos grandes exemplos de que os negros jamais se conformaram com a condição escrava e estavam sempre prontos para agir em busca de sua liberdade.

Queimado hoje é um distrito da cidade de Serra, região metropolitana de Vitória, capital do Estado do Espírito Santo. No Século XIX era uma freguesia vinculada diretamente à capital. Seu nome Queimado veio do fato de ser uma região quente, suscetível a muitas queimadas em sua vegetação.

O estopim da insurreição, cujo termo é impróprio para descrever esse movimento, foi durante muito tempo considerada a “falsa” promessa que um missionário capuchinho italiano, Frei Gregório José Maria de Bene, fez a um grupo de escravos de que após a construção da Igreja da Freguesia dedicada a São José esses escravos ganhariam suas cartas de alforria. Há, porém, registros de que não só os escravos, mas toda a população se empenhou em sua construção. Assim, o fato do Frei Gregório não cumprir sua promessa teria gerado a revolta dos Escravos.

As pesquisas levadas a efeito desde então indicam que a construção da Igreja e sua inauguração foi apenas um dos elementos da revolta, este sim o termo mais apropriado para o movimento.

As pessoas se insurgem contra uma lei ou uma decisão, daí a insurreição. Outras pessoas se revoltam contra uma situação social, estrutural. Foi o que aconteceu. Esse movimento foi sim incentivado pelo Frei Gregório, que em seus sermões pregava a igualdade entre as pessoas e que a escravidão era uma aberração, especialmente aos olhos cristãos. Mas preparado ao longo do tempo.

Os principais líderes do movimento foram os escravos

  • Elisiário Rangel - Chefe da revolta, era um escravo doméstico e estudado, pois sabia ler e escrever  
  • Francisco de São José, o Chico Prego. Era outro idealizador da revolta
  • João, o Pequeno. Escravo de Rangel e Silva. Foi outro dos líderes da Insurreição e por isto condenado à forca. Fugiu da prisão com Elisiário não sendo mais encontrado. 
  • João da Viúva, assim chamado porque pertencia a viúva Monteiro
  • Carlos, irmão de Elisiário, escravo do padre Dr. João Clímaco de Alvarenga Rangel. Foi preso e condenado a morte. Fugiu da prisão, junto com Elisiário, não sendo mais recapturado
Essa revolta, na verdade, aconteceu em razão das condições desumanas de vida dos escravos, de seus sofrimentos e da falta de perspectivas de suas vidas.

O cabeça do movimento foi Elisiário que durante muito tempo preparou o movimento, distribuiu as tarefas e orientou sobre o silêncio dos seus participantes.

A polícia agiu rápido, o movimento foi contido, os revoltosos perseguidos, muitos foram presos e outros tantos presos. Houve confrontos, pois quando os escravos invadiam as fazendas não só conseguiam a liberação dos escravos como pegavam as armas nelas existentes.

Os revoltosos presos foram levados para a Cadeia Pública de Vitória, onde foram maltratados, chegando mesmo a passar fome. Um deles morreu devido estar gravemente ferido e por ter sido obrigado a caminhar desde Queimado.

Em 7 de dezembro de 1849 cinco presos conseguiram escapar da prisão. O carcereiro de repente “foi acometido de um sono profundo, esquecendo a aberta a porta da cela dos negros”. Nada foi encontrado que indicasse que a porta foi aberta à força, e a fuga foi atribuída a um milagre de Nossa Senhora da Penha. Os escravos rezavam muito, sob as ordens de Elisiário. Mais tarde comprovou-se que o carcereiro mesmo deixou a porta aberta, por compaixão pelos sofrimentos dos presos.

Entre os fugitivos estavam Elisiário e seu irmão Carlos. Elisiário, o maior líder do movimento tornou-se uma lenda entre os negros do Espírito Santo, sendo chamado de Zumbi da Serra, uma alusão ao grande herói Zumbi dos Palmares.

Dos que permaneceram presos dois foram condenados à morte e outros castigados duramente, chegando a levar até mil chibatadas e alguns morreram de tanto apanhar.

Há um registro de que uma mulher teria participado do movimento. Esposa de um dos revoltosos foi citada como morta num dos combates com a polícia.

João da Viúva foi condenado à forca “Consta que no Julgamento disse ser inocente, e que o culpado era o Frei Gregório de Bene, que prometera liderar o movimento de liberdade e no momento mais importante, escondera-se dos negros”. Foi executado em Queimado às 6 horas da manhã, do dia 8 de janeiro de 1850, três dias antes da execução de Chico Prego na sede da Vila da Serra.

Dramática foi a execução de Chico Prego.. Após circular pela cidade ao som de tambor, com paradas estratégicas para leitura da sentença, Chico Prego foi levado ao patíbulo. Este não foi suficiente para causar-lhe à morte. O carrasco então cortou a corda e quando caiu ele terminou o “serviço” esmagando-lhe a cabeça e as pernas a pauladas.

Quanto ao Frei Gregório, a História o absolveu, pois se ele teve participação no movimento foi apenas de incentivo à luta. Não liderou. Jamais indicou o caminho da violência. O que ele prometera era fazer gestões junto às autoridades, especialmente junto à Imperatriz Tereza Cristina, que era sua conterrânea para alforriar os escravos que o ajudaram na construção da Igtreja. Mesmo assim foi expulso do Espírito Santo e continuou seu trabalho missionário na Amazônia.

Este trabalho foi elaborado com  informações do  texto QUEIMADO. A REVOLTA DOS NEGROS EM BUSCA DA LIBERDADE, publicado no site


de Clério José Borges de Sant’Ana, que é, também, autor do livro “HISTÓRIA DA SERRA”, uma pesquisa histórica sobre o tema

 

Para mais informações há a indicação do filme

QUEIMADO. A REVOLTA DOS ESCRAVOS, dirigido pelo cineasta João Carlos Coutinho

 

 

 

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