O
dia 22 de Agosto de 1997 marcou um acontecimento muito importante para a
História da Sociedade de São Vicente de Paulo, a Beatificação de Antônio
Frederico Ozanam, pelo Papa João Paulo II, em missa solene celebrada na
Catedral de Notre Dame, em Paris.
O
mundo inteiro esteve com as atenções voltadas para Paris, pois naquele momento
acontecia a Jornada Mundial da Juventude, evento que se tornou ao longo dos
anos a “menina dos olhos” de João Paulo II, que como se sabe tinha um carinho
muito especial pelos jovens.
O
reconhecimento pela Igreja das beatitudes de Ozanam se insere neste contexto,
sendo Ozanam, apresentado pela Igreja como modelo de santidade laica e de vida,
especialmente para os jovens.
Foi
um grande momento. Notre Dame foi totalmente tomada pelos vicentinos, não só o
seu interior como a sua praça fronteiriça. Quem esteve lá não se cansa de falar
da emoção que sentiu, principalmente no momento em que o papa declarou Ozanam
beatificado e os banners com sua imagem eram desenrolados dentro e fora da
catedral.
A
Beatificação de Ozanam significa que os leigos e os jovens, principalmente, têm
agora um modelo de vida, oferecido pela própria Igreja. Ozanam encarna o ideal
de vida, de estudo, de amor, de romantismo, de trabalho, de pai de família, de
serviço.
Significa também que a Igreja tem os seus olhos voltados para os leigos, cuja participação na vida eclesial é de suma importância para que o Reino de Deus se consolide definitivamente na terra. Ozanam passa a ser para eles um modelo de santidade, uma santidade fundamentada numa espiritualidade ativa, inquieta, agente da História.
Já
se passaram 16 anos e nesse tempo, quando termina com grande sucesso a Jornada
Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, configura-se um belo momento para se
reavivar a memória de Ozanam, relembrar a sua beatificação e se falar muito de
sua vida, sua obra, suas ideias e sua contribuição não para a história da
igreja, como para a própria história da humanidade.
Não
importa se perdeu a oportunidade de se inserir eventos nos calendários. Vejamos
isso como providência divina, pois, de agora em diante toda hora é hora de se
falar em Ozanam, pelo menos um pouco. Não percamos nenhuma oportunidade para
isso. Recordemos sua biografia. Falemos de sua vida em Paris, de seus amigos,
de seus estudos, dos eventos que marcaram sua trajetória como estudante, como
professor, como jornalista, como militante em defesa da igreja em momentos
cruciais da história da França.
Divulguemos
suas obras, suas cartas, suas viagens, os fatos heroicos, a fundação da SSVP. Vamos
refletir sobre sua vida familiar, seu casamento, sua esposa, sua filha, seus
descendentes, sua doença, suas dores, tristezas e frustrações, sua entrega e
seu martírio.
Falemos,
sobretudo sobre o seu projeto de vida, conforme trechos selecionados da carta
de sua carta a Hipólito Fortoul e H... (15 de Janeiro de 1831 ), ,
quando tinha apenas 18 anos de idade:
“...Quanto a mim, a resolução já está
tomada, e minha tarefa traçada para a vida. Como amigo devo transmiti-la a
vocês. Sinto, eu também, que se desmorona o passado, que as bases de velho
edifício estão sendo solapadas, e um abalo tremendo mudou a face da terra. Que
surgirá dessas ruins? Deverá a sociedade permanecer sepultada sob os escombros
dos tronos derrubados ou, ao contrário, reaparecerá mais luminosa, mais jovem e
bela? Contemplaremos novos céus e novas terras? Eis a questão! Por mim, que
acredito na Providência e não em algo semelhante a um retorno à vida. Qual
será, porém, a forma de que se revestirá, qual a lei da nova sociedade? Não
ouso fixá-las.
(...)
Juntaremos, então, nossos esforços e,
reunidos, criaremos uma obra. Outros se aliariam a nós e, talvez, então, um
dia, a sociedade toda se congregaria à sua sombra protetora. E o catolicismo,
transbordante de juventude a força, projetar-se-ia fulminante para conduzi-lo à
civilização e à felicidade.
(...)
Sim, os trabalhos preliminares já me
desvendaram a ampla perspectiva que acabo de descobrir, e sobre ela plana
vibrante a minha imaginação. Bem pouco é, porem, contemplar a senda a
percorrer. Preciso é caminhar, porquanto a hora é chegada. E se pretendo
escrever um livro aos trinta e cinco anos, devo iniciar aos dezoito os
numerosos trabalhos preliminares.
(..)
Além do mais, transmiti minha ideia ao Padre
Noirot, e ele me encorajou a levar a cabo o meu plano. E como lhe declarasse
recear que viesse a achar demasiada a carga para mim, assegurou-me que,
certamente, eu encontraria jovens estudiosos, aptos a auxiliar-me com sua cooperação
e conselhos. Pensei, então, em vocês, meus bons amigos’
Conhecer uma dúzia de línguas para a
consulta às fontes e documentos; ter regular noção de geologia e da astronomia
para poder discutir sistemas cronológicos e cósmicos dos povos e dos sábios;
estudar, enfim, a história universal em toda a sua amplitude, e a das crenças
em toda a sua profundez, eis o que me cumpre fazer a fim de atingir a expressão
de minha ideia.
(...)
Portanto,
ao comemorarmos dezesseis anos da Beatificação reflitamos a respeito do real
significado do grande acontecimento de Paris. Reflitamos nas palavras do Papa
que quer Ozanam no coração e na mente dos jovens e dos leigos, rumo ao novo
milênio... (Conheça o discurso de João Paulo II neste blog)
Tudo
de dependerá da atitude dos vicentinos hoje. Sem conhecimento não haverá projetos,
sem projetos não haverá ações. Esse é o desafio que se apresenta hoje; divulgar
Ozanam intensamente para que ele, de fato, seja o nosso modelo de vida, modelo
de santo leigo, modelo de ação política em socorro dos mais necessitados,
enfim, o nosso interlocutor junto ao pai Celeste.
Escreveu
José Gonçalves dos Santos
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