quinta-feira, 22 de agosto de 2013

FREDERICO OZANAM, BEATIFICADO HÁ 16 ANOS


O dia 22 de Agosto de 1997 marcou um acontecimento muito importante para a História da Sociedade de São Vicente de Paulo, a Beatificação de Antônio Frederico Ozanam, pelo Papa João Paulo II, em missa solene celebrada na Catedral de Notre Dame, em Paris.

O mundo inteiro esteve com as atenções voltadas para Paris, pois naquele momento acontecia a Jornada Mundial da Juventude, evento que se tornou ao longo dos anos a “menina dos olhos” de João Paulo II, que como se sabe tinha um carinho muito especial pelos jovens.

O reconhecimento pela Igreja das beatitudes de Ozanam se insere neste contexto, sendo Ozanam, apresentado pela Igreja como modelo de santidade laica e de vida, especialmente para os jovens.

Foi um grande momento. Notre Dame foi totalmente tomada pelos vicentinos, não só o seu interior como a sua praça fronteiriça. Quem esteve lá não se cansa de falar da emoção que sentiu, principalmente no momento em que o papa declarou Ozanam beatificado e os banners com sua imagem eram desenrolados dentro e fora da catedral.

A Beatificação de Ozanam significa que os leigos e os jovens, principalmente, têm agora um modelo de vida, oferecido pela própria Igreja. Ozanam encarna o ideal de vida, de estudo, de amor, de romantismo, de trabalho, de pai de família, de serviço.

Significa também que a Igreja tem os seus olhos voltados para os leigos, cuja participação na vida eclesial é de suma importância para que o Reino de Deus se consolide definitivamente na terra. Ozanam passa a ser para eles um modelo de santidade, uma santidade fundamentada numa espiritualidade ativa, inquieta, agente da História.

Já se passaram 16 anos e nesse tempo, quando termina com grande sucesso a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, configura-se um belo momento para se reavivar a memória de Ozanam, relembrar a sua beatificação e se falar muito de sua vida, sua obra, suas ideias e sua contribuição não para a história da igreja, como para a própria história da humanidade.

Não importa se perdeu a oportunidade de se inserir eventos nos calendários. Vejamos isso como providência divina, pois, de agora em diante toda hora é hora de se falar em Ozanam, pelo menos um pouco. Não percamos nenhuma oportunidade para isso. Recordemos sua biografia. Falemos de sua vida em Paris, de seus amigos, de seus estudos, dos eventos que marcaram sua trajetória como estudante, como professor, como jornalista, como militante em defesa da igreja em momentos cruciais da história da França.

Divulguemos suas obras, suas cartas, suas viagens, os fatos heroicos, a fundação da SSVP. Vamos refletir sobre sua vida familiar, seu casamento, sua esposa, sua filha, seus descendentes, sua doença, suas dores, tristezas e frustrações, sua entrega e seu martírio.

Falemos, sobretudo sobre o seu projeto de vida, conforme trechos selecionados da carta de sua carta a Hipólito Fortoul e H... (15 de Janeiro de 1831 ), , quando tinha apenas 18 anos de idade:

“...Quanto a mim, a resolução já está tomada, e minha tarefa traçada para a vida. Como amigo devo transmiti-la a vocês. Sinto, eu também, que se desmorona o passado, que as bases de velho edifício estão sendo solapadas, e um abalo tremendo mudou a face da terra. Que surgirá dessas ruins? Deverá a sociedade permanecer sepultada sob os escombros dos tronos derrubados ou, ao contrário, reaparecerá mais luminosa, mais jovem e bela? Contemplaremos novos céus e novas terras? Eis a questão! Por mim, que acredito na Providência e não em algo semelhante a um retorno à vida. Qual será, porém, a forma de que se revestirá, qual a lei da nova sociedade? Não ouso fixá-las.

(...)

Juntaremos, então, nossos esforços e, reunidos, criaremos uma obra. Outros se aliariam a nós e, talvez, então, um dia, a sociedade toda se congregaria à sua sombra protetora. E o catolicismo, transbordante de juventude a força, projetar-se-ia fulminante para conduzi-lo à civilização e à felicidade.

(...)

Sim, os trabalhos preliminares já me desvendaram a ampla perspectiva que acabo de descobrir, e sobre ela plana vibrante a minha imaginação. Bem pouco é, porem, contemplar a senda a percorrer. Preciso é caminhar, porquanto a hora é chegada. E se pretendo escrever um livro aos trinta e cinco anos, devo iniciar aos dezoito os numerosos trabalhos preliminares.

(..)

Além do mais, transmiti minha ideia ao Padre Noirot, e ele me encorajou a levar a cabo o meu plano. E como lhe declarasse recear que viesse a achar demasiada a carga para mim, assegurou-me que, certamente, eu encontraria jovens estudiosos, aptos a auxiliar-me com sua cooperação e conselhos. Pensei, então, em vocês, meus bons amigos’

Conhecer uma dúzia de línguas para a consulta às fontes e documentos; ter regular noção de geologia e da astronomia para poder discutir sistemas cronológicos e cósmicos dos povos e dos sábios; estudar, enfim, a história universal em toda a sua amplitude, e a das crenças em toda a sua profundez, eis o que me cumpre fazer a fim de atingir a expressão de minha ideia.

(...)

 Ozanam beatificado traduz para o vicentino uma grande alegria, um santo orgulho até. Entretanto, somos nós mesmos, os seus seguidores que devemos ser os arautos de Ozanam, para que sua vida seja amola propulsora de uma nova realidade na Igreja.

Portanto, ao comemorarmos dezesseis anos da Beatificação reflitamos a respeito do real significado do grande acontecimento de Paris. Reflitamos nas palavras do Papa que quer Ozanam no coração e na mente dos jovens e dos leigos, rumo ao novo milênio... (Conheça o discurso de João Paulo II neste blog)

 Enfim, falemos muito sobre o seu legado, principalmente a Sociedade de São Vicente de Paulo. Dezesseis anos só se comemora uma vez. Nos próximos já não serão dez, mas vinte e, então, estará Ozanam canonizado?

Tudo de dependerá da atitude dos vicentinos hoje. Sem conhecimento não haverá projetos, sem projetos não haverá ações. Esse é o desafio que se apresenta hoje; divulgar Ozanam intensamente para que ele, de fato, seja o nosso modelo de vida, modelo de santo leigo, modelo de ação política em socorro dos mais necessitados, enfim, o nosso interlocutor junto ao pai Celeste.

Escreveu José Gonçalves dos Santos

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