Lembro-me do Professor Carlos José de Almeida. Tive aulas
com ele no Ensino Médio, lá pelos anos de 1969, 1970 e 1971. Ainda estava em
dúvidas quanto à carreira que deveria seguir. O sonho inicial era o jornalismo,
algo muito distante de mim naquela época em que sair de casa e aventurar na
vida ainda não faziam parte da minha cultura familiar.
O Professor Carlos, no Instituo de Educação João Cursino, excelência
de escola na época, antes de se tornar uma escola estadual com as mesmas
mazelas de todas as outras, era um professor que eu diria à moda antiga. Não
muito alto, dono de uma voz muito forte, de grande domínio da sala e,
principalmente um mestre excepcional, pois sabia História como ninguém. Era temido.
Rígido. Minhas notas com ele nunca foram as melhores, mas o suficiente para
passar de ano.. Foi, então, que participando de suas aulas que eu descobri que
estudar História era um excelente caminho e foi o que eu fiz.. Tornei-me
Professor de História, claro, sem jamais chegar ao nível de meu mestre.
Ele jamais soube disso. Na Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras, futura Universidade de Taubaté, tive ótimos professores: Januária,
Ariosto, Simplício, Sônia, Geni, Lippi, cujos ensinamentos só ao longo de minha vida profissional pude
avaliar concretamente. Fui Professor de História por 32 anos, até me aposentar.
Então... valeu a pena.
Meu curso universitário sofreu muitas alterações. Quando
iniciei, o curso era normal com quatro anos de duração e todas as matérias
tradicionais. Tive de parar por dois anos e quanto voltei tudo estava mudado.
Já não era mais História e sim Estudos Sociais. Daqui a pouco já não era mais
“Estudos Sociais” e voltou História com outra roupagem. Os professores eram extraordinários, mas
pouco podia fazem diante dos mandos e desmandos do Regime Militar. Resultado:
aprendi pouco.
Voltando ao Professor Carlos....Eu ouvi dele algumas coisas das quais nunca mais esqueci. Uma delas foi a
sua preocupação com a proliferação de cursos eminentemente técnicos. Claro que
ele já antevia que num futuro próximo entraríamos, como já estamos vivendo
plenamente a “Era da Tecnologia e da Informação”. Dizia ele: “Vai faltar humanidade na sociedade”.
Sim ele foi um profeta, pois, a minha experio-vivência em grandes empresas e
até mesmo na Rede Estadual de Ensino de São Paulo, indica que o excesso de
tecnologia torna a pessoa menos humana, menos educada e mais arrogante. A arrogância
é um forte veneno que deteriora as relações sociais.
Outra preocupação expressa pelo Professor Carlos era quanto
ao desmatamento da região do Vale do Paraíba, que na época do descobrimento,
habitada pelos índios Tamoios, era toda coberta pela Mata Atlântica. O próprio
Vale exibia um tipo arbóreo, classificado como de transição para o cerrado.
Claramente estão em minha memória suas palavras: “Ontem sobrevoei o Vale.....
Tudo muito bonito, mas uma coisa me deixou triste: o desmatamento. Isso não é
bom e muito ruim para o nosso futuro”.
No final dos Anos 60 e inicio dos anos 70, quando vivíamos a
plenitude da Ditadura Militar, pouco, muito pouco mesmo se preocupavam com as
relações humanas e com o meio ambiente.
Hoje, suas palavras são atualíssimas...
No ano de minha formatura, iniciei minha carreira no
Magistério Público Estadual de São Paulo, ministrando aulas exatamente como eu
queria: na Escola João Cursino, na qual tinha e tenho orgulho de ter estudado lá. Minha emoção foi maior ainda
quando a Diretora da época me ofereceu algumas aulas do Professor Carlos que estava
saindo de “Licença Prêmio”. Emoção e responsabilidade de substituir o mestre. Porém,
o nosso reencontro, no seu retorno ao trabalho não foi dos mais felizes, pois o
mestre não gostou do meu trabalho. Algo esperado, dado o seu nível de
exigência, à minha inexperiência e o diálogo que não houve, Mas isso foi um incidente menor, que só
contribuiu para o meu crescimento e em nada arranhou a imagem positiva que
ainda guardo dele.
Sei que ao Professor Carlos possam ser agregadas restrições
quanto ao seu estilo de aula, ao seu difícil diálogo extraclasse, mas quando eu
já estava na Faculdade e se comemorava o sesquicentenário da Independência do
Brasil, eu como líder dos Jovens Vicentinos do meu bairro, o convidei para uma
palestra sobre o evento e ele aceitou e foi um sucesso. Pude assim dar a minha
contribuição, com conotação histórica às comemorações pelos 150 anos de Brasil
Independente.
Nunca mais o vi. Não mais tive notícias dele. Mas uma coisa
é certa, a minha formação histórica teve inicio graças ao PROFESSOR CARLOS JOSÉ
DE ALMEIDA.
Minha vida profissional foi, sim, uma construção a partir do
cotidiano da vida mas inspirado fortemente nas suas aulas. Obrigado Professor.
Sou seu fã!
Escreveu José Gonçalves dos Santos
Tenho orgulho do profissional que vc foi, é e será sempre, fazia e fez o que gostava...ENSINAR.
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