A GUERRA FRIA
Para que possamos compreender as razões e o significado dos dois
acontecimentos que vamos estudar (as invasões da Hungria em l956 e da
Checoslováquia em l968, pelas tropas da ex-União Soviética) precisamos tomar
conhecimento da Guerra Fria, que foi o pano de fundo desse período da História
recente da humanidade.
A Guerra Fria foi uma série de confrontos entre as duas grandes
potências mundiais emergidas da II Guerra Mundial, Estados Unidos (EUA) e
Ex-União Soviética (URSS), em praticamente todos os campos de atividades,
destacando-se a Corrida Armamentista, a Corrida Nuclear e a Conquista do Espaço
Sideral.
Em decorrência da Guerra Fria e da emergência das duas potências, o
mundo ficou bi-polarizado, isto é, com duas grandes áreas de influência: a dos
EUA, com ênfase ao capitalismo e da URSS, socialista.
Estabeleceu-se, então, a nova geopolítica, surgindo o Primeiro Mundo
(sob a hegemonia dos EUA), o Segundo Mundo (URSS) e o Terceiro Mundo (formado
pelas nações pobres, periféricas e transformadas em alvo da ação imperialista
das duas nações hegemônicas).
Na Europa houve praticamente dois alinhamentos em torno das duas
potências: a Europa Ocidental (formada pelos países do lado mais ocidental)
alinhou-se aos EUA; e a parte Oriental (Polônia, Hungria, Albânia,
Checoslováquia e/outras) à URSS.
(Algumas, como a Suíça, permaneceram na neutralidade). Entre as duas
regiões caiu, o que se convencionou chamar, por sugestão de Winston Churchill,
a “ Cortina de Ferro “.
Cada potência fazia de tudo para proteger seus “aliados” e impedir que
mudassem de lado, comprometendo sua área de influência.
A INVASÃO DA HUNGRIA - 1956
Os acontecimentos que levaram ao massacre e ao fim sonhos de liberdade
recentemente acalentados pelos húngaros precipitaram-se em 23 e 24 de outubro
de l956. Todo o país se voltava para a Polônia, onde, sem golpes de sangue,
ainda que sob a ameaça soviética, uma mudança radical acabara de acontecer. O
Comitê Central do Partido Comunista, sob a pressão das massas, elevara ao poder
o nacional-comunista Gomulka, velho resistente à dominação externa, vítima do
terror stalinista.
Os húngaros sonhavam com liberdades políticas, sociais e econômicas. Os
dirigentes húngaros da época, Gero (stalinista), e Janos Kadar, estavam habituados
desde 1945 a
receber docilmente as ordens de Moscou (Capital da URSS), e se mostravam
incapazes de tomar qualquer decisão diante das mudanças que o povo exigia. Os
estudantes tinham programado uma grande manifestação para após o meio dia de 23
de Outubro, e Gero decidiu proibi-la. Voltou atrás, diante da promessa de que
não haveria violência e vandalismo.
Os estudantes, entretanto, não conseguiram conter-se. A multidão
reuniu-se primeiro em volta da estátua de Petof, herói da revolução nacional de
1848, e marcharam pelas principais ruas da capital.
À medida que marchava, recebia a adesão de trabalhadores em escritórios,
operários, soldados uniformizados, estudantes de escolas militares. Levavam
bandeiras tricolores sem o emblema comunista. Com isto, um novo personagem
entrou em cena: a massa anônima, desarticulada, sem chefe, que tinha apenas uma
certeza: a de que alguma coisa muito importante ia acontecer.
O povo ocupou todo o quarteirão do Parlamento. Os gritos aumentavam de
intensidade: “Imre Nagy no poder!
Queremos ver Imre Nagy!”. Relutante, Nagy dirigiu-se ao Comitê Central,
onde assumiu o cargo de Primeiro-Ministro.
Os acontecimentos se precipitaram. Grupos de jovens ocuparam a emissora
de rádio, exigindo que divulgasse suas reivindicações. Um discurso de Gero,
chamando-os de contra-revolucionários. Os policiais chegaram, e aí aconteceu a
grande surpresa: muitos policiais juntaram-se aos manifestantes e lhes
entregaram armas. De repente começou o tiroteio, transformando a manifestação
pacífica em luta armada contra a parte da polícia que não aderira. A estátua de
Lenin foi derrubada e o chefe do governo húngaro, Gero, pediu socorro aos
dirigentes soviéticos, dizendo que a revolta crescera e que a polícia não seria
capaz de contê-la.
Foi então que Imre Nagy, chamado pelo povo, foi contra a ajuda militar
soviética, mesmo tendo a revolta se transformado em guerra nas ruas da cidade.
Seguiu-se uma série de encontros entre dirigentes húngaros e soviéticos, até
que na noite de 03 de Novembro de 1956, o General Servo, chefe da polícia de
segurança soviética, prendeu todos os dirigentes húngaros, contrários a essa
ajuda militar.
Janos Kadar, aliado dos russos voltou ao poder e, mal o dia 4 de
Novembro amanheceu, os tanques soviéticos entraram em Budapeste, apoiados pela
aeronáutica. Era o começo do massacre. Apesar de toda a desorganização, o povo
tentou enfrentar os invasores, em combates sangrentos. Soldados húngaros
seguiram o exemplo do povo e entraram na luta. Mas os tanques falaram mais
alto. Três mil pessoas foram mortas e 14 mil foram feridas. Os tanques passaram
por cima dos sonhos dos húngaros.
A INVASÃO DA CHECOSLOVÁQUIA
O povo da Checoslováquia (hoje dividida em duas nações: Checa e
Eslováquia) experimentou, também, em 1968, os sonhos de uma liberdade,
conhecida como a “Primavera de Praga”. Conheceu também a realidade de uma
repressão implacável, por parte dos seus aliados da Cortina de Ferro, liderados
pela União Soviética.
A Checoslováquia era governada por Alexander Dubcek, que imprimiu ao
país reformas que buscavam um “socialismo humanizado”, estimulando a
criatividade artística e científica. As lideranças stalinistas foram afastadas,
procedeu-se à descentralização e à liberação do sistema, com amplo apoio de
operários, intelectuais e estudantes.
O Comitê Central do Partido Comunista da Checoslováquia elaborou, então,
o projeto para “renovação do socialismo“, promovendo a democratização do
Partido e do Estado, criando condições para uma participação ativa das massas
na orientação e direção do país.
Essa renovação atingia todos os aspectos da atividade nacional: criação
de novas formas de gestão socialista da economia nacional, nascimento de uma
verdadeira democracia socialista, nova definição do papel dirigente da classe
operária e de suas relações com a cultura e os intelectuais, construção de um
verdadeiro socialismo humanista.
O fim da Primavera de Praga
Esse reformismo, entretanto, esbarrava na nova conjuntura soviética e
internacional: O líder soviético Leonid Brejnev revertia a desestanilização de
Nikita Krushev e, no plano externo, experimentava o endurecimento das relações
com os Estados Unidos, reforçando a Guerra Fria. Como o projeto da Primavera de
Praga implicava em autonomismo, colocava em risco a hegemonia soviética, ameaçando
o monolitismo dos partidos comunistas nos diversos países do leste Europeu, o
que estimularia a oposição e as dissidências.
As intervenções política e militar dos dirigentes da União Soviética e
de alguns de seus parceiros do Pacto de Varsóvia mataram a esperança dos
Checos.
A invasão foi desfechada de surpresa, na noite de 20 de 21 de Agosto,
com forças da União Soviética, Alemanha Oriental, Bulgária, Polônia e Hungria.
Ante a investida de 200 mil homens, que ocuparam rapidamente os pontos estratégicos
de Praga e do interior do país, cortando todas as comunicações com o exterior,
as autoridades locais pediram às Forças Armadas e ao povo que não resistissem.
Dubcek e seus principais colaboradores foram detidos e enviados para Moscou.
Ao contrário do que ocorreu na Hungria, em l956, a Primavera de Praga
foi esmagada sem matança, mas Moscou demonstrou claramente que pretendia
restabelecer seu domínio absoluto sobre a Checoslováquia. A censura foi
rigidamente restabelecida sobre todos os meios de comunicação e os reformistas
depostos e detidos. A polícia secreta soviética assumiu o controle da situação,
enquanto as forças blindadas foram mantidas no interior do país e a capital,
Praga, foi obrigada a reconhecer, sob pressão direta dos dirigentes de Moscou,
que “suas fronteiras ocidentais eram inseguras e deviam se defendidas“.
No dia 04 de Outubro, processou-se o desmantelamento total da Primavera
de Praga. A União Soviética anunciou a conclusão de um “acordo“, nos termos do
qual suas forças permaneceriam indefinidamente na Checoslováquia.
A 30 de Outubro, o país foi dividido em Estados autônomos federados,
checo e eslovaco. E a 17 de Abril de l968 ocorreu o último ato: Dubcek foi
deposto e substituído por Gustavo Husak, o líder comunista designado por Moscou
para restabelecer seu controle direto sobre o país invadido.
Foi o fim da Primavera de Praga.
CONCLUSÃO
As invasões da Hungria e da Checoslováquia têm sua importância História como exemplos de imperialismo.
Quando os interesses maiores de nações dominantes são afetados de nada valem os
valores humanos e individuais das nações menores. Muito menos os direitos
humanos e de cidadania. Fica o exemplo para que situações dessa natureza não
venham a acontecer. Para isso todas as nações, não importam o seu tamanho
territorial ou o número de sua população, devem amadurecer no sentido de fazer
valer os seus valores e sua autodeterminação.
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