A
história ensina... E como ensina!
Siracusa
foi, em tempos remotos, uma importante comunidade grega na ilha da Sicilia, sul
da Península Itálica. Rica, apoiando o avanço comercial dos gregos, foi
administrada por reis tiranos e sanguinários.
Em
período incerto governou Siracusa o Rei Dionísio II, poderoso e igualmente
sanguinário. Muito rico, tinha em sua corte um bajulador contumaz chamado
Dâmocles. Dionísio, apesar do poder vivia infeliz e preocupado, pois tinha
muitos inimigos. Não confiava em ninguém, a não ser em suas filhas. Dâmocles
parecia invejar-lhe o luxo e a riqueza, dizendo aos quatro cantos que Dionísio
era, sim, o homem mais feliz do mundo.
Dionísio,
então, propôs-lhe ceder a Dâmocles pelo menos um dia e uma noite de seu luxo,
para que ele realmente desfrutasse daquilo de que tanto falava. Dâmocles
aceitou e passou a saborear os vinhos e as comidas de primeira linha, e, também
das lindas mulheres que serviam à corte. Entretanto, no auge da alegria e da
felicidade, Dâmocles percebeu que uma espada muito afiada e brilhante pendia
sobre sua cabeça, presa por um finíssimo fio de rabo de cavalo. Mais do que
depressa, mas com cuidado ele se afastou do trono onde estava, desistindo de
vez do luxo, da opulência e da alegria, mesmo que fosse por um dia e uma noite.
Dionísio
interpelou-o dizendo que esta era a situação em que vivia constantemente. Pois
sabia que o risco de a espada cair, por
um simples gesto de quem quer que seja era iminente. Por isso estava sempre triste
e amargurado, temendo pelo pior, isto é, a traição e a morte.
Essa
história foi-nos legada por Cícero, grande filósofo romano do Primeiro Século
Antes de Cristo, que teria lido nas obras do historiador grego Diodoro Sículo
(ou da Sicilia) e popularizada na Idade Média. O ensinamento de Cícero é que a
espada de Dâmocles representa a insegurança daqueles que detém grande poder,
especialmente quando esse poder é mantido pela força, pelo autoritarismo, pelo
sangue. O medo da queda faz o inferno mental desses homens. Os tiranos são
sempre corridos por baixo.
Verdade
ou inverdade, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. Pois
falando em vida pública, quem cometeu deslizes, corrupção ativa ou passiva, crimes
contra a sociedade ou contra o bolso do contribuinte ou contra o bem comum,
sabe que a espada um dia vai cair sobre sua cabeça. Não há crime perfeito, a
não ser com a conivência do sistema jurídico e também da sociedade não
politizada.
Do
episódio de Dâmocles e Dionísio pode ter originado ainda a expressão “vida por um
fio”, o fio da espada, o frágil fio do rabo de cavalo que a mantém suspensa.
Como
seria bom uma justiça atuante, não condescendente. Como seria ótimo um povo
consciente e lutador por sua dignidade humana. Como seria maravilhoso o
respeito pelos valores sagrados do universo humano, da natureza, do meio
ambiente.
A
História ensina... E como ensina... Mas quem aprende?
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